quarta-feira, 27 de maio de 2015

Quem sou eu?


Não sou escritor nem poeta, sou apenas um livre pensador que resolveu colocar seus devaneios em um papel e mostrá-los aos outros. Contudo, acredito no poder imanente nas palavras que nos fazem reconhecer na emoção a razão de se viver, e na razão a emoção de conhecer. Descartes com seu famoso e irrefutável "penso, logo existo" acabou por colocar o pensamento acima de qualquer suspeita, superando o empirismo e o ceticismo. Mesmo que ele não tenha dado a ideia de uma substância ao sujeito, ele acabou mostrando que, por mais quimérico que seja, o pensamento sempre conterá uma verdade inexorável, a da existência. Em meio a tantas quimeras, há sempre uma verdade escondida.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Prefácio aos meus escritos

Em nossos tempos, a ousadia e a coragem estão intimamente ligadas às buscas do ter, do prazer e do poder, todavia, em nenhuma delas, o ser humano se encontra satisfeito. Almeja sempre mais e, com isso, pensa estar dando sentido à sua existência. E o que é existir num mundo capitalista? É ter a sua funcionalidade definida pelo fator financeiro, é renunciar a muito para conquistar pouco, é esperar pelo futuro que, observado à distância, parece bem melhor do que o presente; enfim, é esperar pelo futuro do futuro do futuro... Não é necessário ser um grande observador para se deparar com essa realidade. O Ser já não parece ter a sua existência em si mesmo, depende de algo que lhe dê “legitimidade”. Mas é preciso ter cautela quando se analisa a sociedade: há diversos críticos sociais, mas poucos revolucionários. Ser um cético não muda em nada a situação daqueles que sofrem, como também não muda em nada, ser somente um crente. Aqui, porém, a análise não tem visões revolucionárias, seu intuito é o Ser do homem e da mulher em um mundo cujas mudanças sociais interferem diretamente em sua vida e, consequentemente, em suas decisões. Assim, a liberdade se transforma na angústia da opção, na insegurança diante do incógnito, na permanência do Umbral.

Diante da angústia da escolha, a liberdade é limitada por meios que, consciente ou inconscientemente, direcionam o ser humano a aceitar as convenções sociais estabelecidas, como um ator que simplesmente representa aquilo que outros determinaram sem se perguntar sobre o verdadeiro sentido de sua existência, pergunta fundamental para que se adquira a verdadeira direção na altiva busca da felicidade.

Desde o nascimento, o ser humano é levado a agir e a pensar de acordo com o que foi estabelecido pela sociedade como certo ou errado. Educar passa a ser sinônimo de alienar, aliás, a própria necessidade de ser “educado” é algo que parte de um mundo no qual este novo ser deve ser introduzido gradativamente.

Com o passar dos anos, o ser em questão começa a possuir os primeiros sinais de sua “humanização”. O uso de certos tipos de roupas, as atitudes relacionadas ao “momento propício” e a adesão de seres mistificados o colocam numa trilha cujos desvios são punidos de acordo com o seu grau de “conscientização”.

No estágio intermediário, o novo ser começa a perceber que uma belíssima capa dourada cobria uma grande quantidade de dejetos; sua primeira atitude é a revolta. Esta, já esperada pela sociedade, é apaziguada por racionalizações que lhe darão uma ilusória sensação de alegria cujos efeitos voltarão a cercear a sua busca de liberdade; afinal de contas, quem se desvia de caminhos ‘tão certos’(ou, pelo menos, aceitos como tais) não é verdadeiramente livre, é um demente, um libertino, um alienado... (entenda-se a ironia destas palavras). Eis a maior razão pela qual parece não valer a pena se desviar: o preço a ser pago por tal atitude é muito alto.

No último estágio, o ser humano é realmente aceito como tal. Sua “humanização” foi concluída. “Agora, ele será livre para pensar e agir”. Todavia, seu pensamento foi formado de maneira condicionada e, o que parece seu, na verdade pertence à sociedade. Sua certeza é impingida e sua liberdade é ilusória. Quando só se tem um caminho, não há o que escolher e, toda opção parece acertada. Dessa forma eliminou-se a angústia da dúvida e, com ela, a liberdade da escolha.

“Razão e razões”, longe de ser uma “tentativa milagrosa” de livros que oferecem pílulas de bem-estar aos seus dependentes, faz de suas análises intrínsecas a cada fato do cotidiano uma possibilidade de construção de um caminho consciente. Por que se falar em caminho? Por que se falar em consciência? Quando escolhemos um caminho, temos em mente somente o seu destino, não o seu trajeto. A decepção que aflige a muitas pessoas, não é o que se alcançou, nem mesmo a diferença (determinada pelos sentidos) daquilo que se almejou, mas, sim, os desafios que são inerentes a todo caminhar. É neste momento que a consciência age, mostrando ao peregrino quais são as pedras que devem ser escaladas, desviadas e, por que não, ignoradas: há muitas pessoas que tomam decisões precipitadas sem ter em mente o que se vai enfrentar, mas há outras que nunca tomam decisões por que têm em mente desafios que ‘pensam’que enfrentarão. Estas últimas buscam razões (motivos) sem utilizar a razão.

Em “O fogo celestial de uma vida em vivência” um jovem relata as lembranças de sua vida a partir do momento em que iniciou a formulação de sua visão de mundo. Já na adolescência, é forçado a enfrentar o diferente devido a diversos fatores socioeconômicos. A sua linguagem, o seu modo de encarar os problemas, a sua falta de iniciativa, a sua aceitação passiva do acaso, a invenção de diversos subterfúgios para explicar suas decisões ou relutâncias são exemplos de atitudes humanas relacionadas ao Ser e à Liberdade. Mas este é somente o ponto de partida para um julgamento mais aprofundado.

Em “Liberdade ou solidão”, o personagem é um jovem cujas buscas sempre acabam no vazio. Suas reflexões abrangem diversos pontos de vista já conhecidos, todavia não se inclinam a defender nenhum deles: teses são refutadas a todo instante, mas não deixam de propiciar ao Ser Humano um crescimento, principalmente para o mundo hodierno onde pensar é perder tempo, e tempo é dinheiro. A criança, em sua visão de mundo, anseia pela liberdade que um dia conquistará ao se tornar adulta. O adolescente inicia a sua busca tentando se desvencilhar daqueles que lhe inseriram os conceitos convencionais da sociedade: seus familiares; mas quando se torna jovem, percebe que formou as suas próprias convenções e delas se tornou prisioneiro. Desta forma, o jovem chega ao Umbral mencionado acima: a escolha de um dos vários caminhos ou a escolha da não-escolha. Em nada poderá fugir, estará condenado a ser livre e terá saudades dos tempos nos quais se achava um joguete do destino.

Em “Aprendendo a viver”, reflexões feitas anteriormente são retomadas em forma de versos. Seus temas abrangem às atitudes humanas que tornam a vida mais, ou menos deleitosa: de acordo com a conseqüência da liberdade. Seus versos, apesar de parecerem certezas, são questionamentos. A simples aceitação das convenções sociais pode livrar o homem da angústia da escolha inerente à liberdade? Liberdade é sinônimo de felicidade? Podem as convenções sociais dar sentido à existência humana e, ao mesmo tempo, limitar a sua liberdade?

Enfim, “Razão e razões” não tem a pretensão de ser uma pequena obra filosófica, não há uma fundamentação contínua e bem embasada para isso. Ela é apenas uma faísca que pode originar um grande fogaréu, mas como em potencial nada não é nada, não é possível atribuir à faísca o resultado devastador do grande fogo.
No momento, limitemo-nos a concluir o óbvio: somos atores e representamos uma peça cujo final, trágico ou feliz, dependerá de nosso grau de consciência que deflagrará com veemência no peito, mas poderá conferir ao Ser Humano a genuína liberdade.