quinta-feira, 22 de abril de 2021

A CIÊNCIA E O SENSO COMUM

Olá Caros alunos, vamos nesta aula rápida refletir um pouco sobre a racionalidade científica e o senso comum. Em filosofia nós somos levados a pensar de maneira crítica sobre vários aspectos da realidade humana, entre eles sobre a maneira como conhecemos o mundo ao nosso redor.
A ciência, assim como a filosofia, sempre busca compreender esse mundo para tirar disso algum conhecimento útil ao próprio ser humano. E quando falamos em útil, não estamos aqui falando de utilidade no sentido capitalista, ou seja, utilitarista, mas útil em todas as situações. Por isso, temos que ter em mente que a filosofia vai além da ciência nesse sentido, já que a ciência nem sempre pode ser colocada como neutra, ou seja, não podemos ter a ilusão de uma neutralidade científica, já que inúmeras vezes já tomou partido em algumas situações e em várias delas desatrosas, como o que vimos nos seus empregos durante as guerras mundiais, nas abordagens que justificaram a discriminação e o preconceito, e até mesmo sendo movidas por interesses meramente políticos e econômicos.
Só pra dar alguns exemplos. Com a descoberta da energia nuclear que foi muito útil para a humanidade, também tivemos a crianção da bomba atômica; com a invenção do avião, ele foi utilizado para a guerra matando milhares de pessoas; com as descobertas no campo da biologia, tivemos o seu uso para a ameaça de uma guerra biológica; várias descobertas na área da psicologia foram utilizadas para manipulação das pessoas em geral atendendo a interesses de dominação.
Mas é importante ressaltar que a ciência, apesar de apresentar reações adversas ao próprio organismo social, tem grande importância para progresso da humanidade. E, com certeza, ainda possui muito mais pesos que as opiniões e crenças divulgadas cotidianamente pelas pessoas, hoje em dia, ainda mais pelas redes sociais.
A ciência parte do senso comum, parte da compreensão que o ser humano já tinha do mundo ao seu redor há muito tempo atrás já que não foi a ciência que inventou por exemplo a gravidade, ou o átomo. Ela apenas descobriu uma teoria que explica a gravidade e o átomo. Por isso, é errado dizer que Isaac Newton inventou a gravidade, já que ele apenas criou a lei que a explica.
Os fenômenos que compõem a vida se apresentam a nós como dados objetivos (a chuva, o sol, o relâmpago, as doenças...) . A maneira de explicá-los de forma mais ou menos eficiente vai mudando ao longo do tempo. E a ciência aperfeiçoa essas explicações. O problema é que com o tempo ela vai se especializando tanto que se afasta do senso comum, fazendo com que suas descobertas muitas vezes sejam suplantadas por teorias sem nenhum fundamento.
Foi o que aconteceu recentemente em relação aos debates em redes sociais durante a pandemia sobre o uso da vacina e de medicamentos ineficazes para combate ao vírus Covid19.
Além disso, a própria vacina não é o resultado unicamente do empenho do empenho da ciência, que é louvável de toda maneira, mas sabemos que esse empenho sempre é movido por outras circunstâncias e interesses entre eles até mesmo a dominação política e econômica. Basta a gente se atentar para o fato de que quem financia a pesquisa define no final das contas qual direção ela vai tomar. Vejam o caso das vacinas, que apesar de salvarem a vida de milhões de pessoas pelo mundo afora, são mercadorias vendidas como qualquer outra mercadoria e, até pior, já que sua demanda atualmente é altíssima.
Mas aí o erro seria o extremo oposto. Continuando com esse exemplo da vacina. Se a vacina é mercadoria e atende ao interesse dos grandes laboratórios, poderíamos fazer um boicote a ela? Sabemos que não é assim que funciona, não é mesmo? Ou seja, temos que reconhecer o empenho nessa produção de imunizantes em tempo recorde nunca antes visto, mas sempre de maneira crítica para que não acabemos caindo nas malhas das teorias da conspiração e acabemos contribuindo para que mais mortes ainda ocorram pelo mundo afora.
Para finalizar, nós assistimos no século XX ao reconhecimento de que a razão científica e filosófica, não cumpriu os propósitos iluministas de uma razão instrumental que era caracterizada pela utilização do conhecimento como forma de criar condições materiais para conservação da vida do ser humano tirando o ser humano das trevas da ignorância, já que ela mesma foi responsável por tudo aquilo que torna o ser humano menos humano, como constatamos pelas dominações ocorridas nos regimes totalitários, pelas discriminações e preconceitos ocorridos no mundo afora, pelas guerra que mataram milhares de pessoas. E é essa razão instrumental que os Filósofos da Escola de Frankfurt, Adorno e Horkeimer, fazem sua crítica propondo no lugar dela uma razão crítica que não se empenhe em dominar e controlar a natureza e os seres humanos, mas sim em fazer com que o ser humano compreenda os objetivos e as consequências de todos os seus conhecimentos do mundo ao seu redor.

 

https://youtu.be/6cD5bZUcYow


quinta-feira, 15 de abril de 2021

Planos de Estudos Tutorados 2021

 

O Plano de Estudo Tutorado (PET) é uma das ferramentas do Regime de Estudo não Presencial, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Ele será ofertado aos alunos da rede pública como alternativa para a continuidade no processo de ensino e aprendizagem neste período em que as aulas estiverem suspensas por tempo indeterminado como medida de prevenção da disseminação da Covid-19 em Minas Gerais.

 

https://www.youtube.com/playlist?list=PLlTIEBI_iucUbPVaZswuGEMX7z1MnQdYE

Planos de Estudos Tutorados 2021 - FILOSOFIA - SEGUNDO ANO

O Plano de Estudo Tutorado (PET) é uma das ferramentas do Regime de Estudo não Presencial, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Ele será ofertado aos alunos da rede pública como alternativa para a continuidade no processo de ensino e aprendizagem neste período em que as aulas estiverem suspensas por tempo indeterminado como medida de prevenção da disseminação da Covid-19 em Minas Gerais.

 

https://www.youtube.com/playlist?list=PLlTIEBI_iucUbPVaZswuGEMX7z1MnQdYE

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

LIBERDADE: UM PROBLEMA PSICOLÓGICO? (MEDO DA LIBERDADE - ERICH FROMM) | ...

Olá Caros alunos, nós vamos a neste vídeo e em alguns que se seguem a partir de hoje, falar de uma obra do Filósofo e Psicólogo humanista Erich Fromm sobre o qual já falei em algumas aulas. Nós vamos tomar como referência a obra Medo da Liberdade que segundo Fromm trata de um estudo do caráter do homem moderno e dos problemas de interação dos fatores psicológicos e sociológicos. Eu vou tentar analisar essa obra por completo, por isso, as aulas vão acabar sendo um pouco mais longas, mas vocês vão ver que vão levar a muitas reflexões.

No primeiro capítulo da obra com o título: Liberdade um problema psicológico ele inicia falando que a história moderna gira em torno do esforço do ser humano se livrar das amarras políticas, econômicas e psicológicas sustentando diversas lutas pela liberdade contra aqueles que tinham privilégios a defender e muitos morreram nessa luta. Mas ele vai lembrar que: NA LONGA E PRATICAMENTE CONTINUA BATALHA PELA LIBERDADE, CONTUDO, AS CLASSES QUE LUTAVAM CONTRA A OPRESSÃO EM DETERMINADA FASE, UMA VEZ OBTIDA A VITÓRIA ENFULEIRAVAM-SE AO LADO DOS INIMIGOS DA LIBERDADE PARA DEFENDER NOVOS PRIVILÉGIOS.
 
E aí os seres humanos acreditavam que a plena realização de suas potencialidades era uma aproximação de uma evolução social principalmente através dos princípios do liberalismo econômico, democracia política, autonomia religiosa, e individualismo na vida privada. Nesse sentido, o ser humano se considerou senhor da natureza e sobrepôs ao seu domínio, bem como ao domínio da Igreja e do Estado absoluto.
 
A primeira guerra mundial significa uma luta derradeira pela liberdade, pois fortalecia as democracias já existentes e substituía várias velhas monarquias. Mas com  passar dos anos isso se mostrou uma ilusão porque: “A ESSÊNCIA DESTES NOVOS SISTEMAS, QUE DE FATO ASSUMIRAM O CONTROLE DE TODA A VIDA SOCIAL E PESSOAL DO HOMEM, ERA A SUBMISSÃO DE TODOS, SALVO UM PUNHADO, A UMA A UMA AUTORIDADE SOBRE A QUAL NÃO PODIA EXISTIR RESTRIÇÃO ALGUMA.
 
Evidentemente ele está falando dos regimes totalitários como o nazismo e o fascismo. Mas ele lembra que as pessoas não deram muito crédito a isso, porque acreditavam que se tratava da loucura de alguns poucos indivíduos como Hitler por exemplo que provocaria um colapso de ideias com o tempo. Já outros acreditavam que faltava um amadurecimento da democracia que poderia ser esperado.
 
O problema foi que esses líderes autoritários alcançaram o poder sobre a vasta aparelhagem do Estado e governavam mediante força bruta contra quem se opusesse, que era tratado como traidor e pelo terror.
 
Com o tempo o mundo passou admitir que os alemães, por exemplo estavam desconsiderando a luta pela liberdade de seus antepassados e abrindo mão dela. Mas ele lembra que essa crise da democracia não se restringiu à Itália e à Alemanha, mas era peculiaridade da democracia em todo o Estado Moderno. Ou seja, não é o fato do mundo condenar o nazismo e o fascismo que a democracia nos demais países não corria o risco, mas é a existência das atitudes pessoais dos indivíduos em todos os países e das instituições que acabam criando condições para a vitória do autoritarismo. Por Fromm tem a intenção de analisar o caráter do ser humano moderno que levou-o a desistir de sua liberdade nos países fascistas e que predomina em todos os seres humanos em todo o mundo. Para isso ele vai propor as seguintes perguntas:
 
O QUE É A LIBERDADE COMO EXPERIÊNCIA HUMANA? É O DESEJO DE LIBERDADE ALGO INERENTE À NATUREZA HUMANA? É UMA EXPERIÊNCIA IDENTICA INDEPENDENTE DO TIPO DE CULTURA EM QUE A PESSOA VIVE, OU DIFERE DE ACORDO COM O GRAU DE INDIVIDUALISMO ATINGIDO EM UMA DETERMINADA SOCIEDADE? É A LIBERDADE APENAS A AUSÊNCIA DE PRESSÃO EXTERNA OU É A PRESENÇA DE ALGO, SE SIM, DE QUÊ? QUAIS SÃO OS FATORES SOCIAIS E ECONÔMICOS DA SOCIEDADE QUE CONTRIBUEM PARA A LIBERDADE? PODE A LIBERDADE TORNAR-SE UM FARDO PARA O SER HUMANO, ALGO DE QUE ELE PROCURE ESCAPAR? POR QUE A LIBERDADE É PARA MUITOS OBJETIVO COBIÇADO E PARA MUITOS UMA AMEAÇA? NÃO HAVERÁ, IGUALMENTE, ALÉM DE UM DESEJO INATO DE LIBERDADE, UMA ASPIRAÇÃO INSTITIVA À SUBMISSÃO? SE NÃO HÁ, COMO PODEMOS EXPLICAR A ATRAÇÃO QUE MUITOS ENCONTRAM HOJE NA SUBMISSÃO A UM CHEFE? A SUBMISSÃO É SEMPRE A UMA AUTORIDADE MANIFESTA OU HÁ TAMBÉM SUBMISSÃO A AUTORIDADES INTERIORIZADAS, COMO O DEVER OU A CONSCIÊNCIA, A COMPULSÕES OU A AUTORIDADES ANÔNIMAS, COMO OPINIÃO PÚBLICA? HAVERÁ UMA SATISFAÇÃO RECÔNDITA EM SUBMETER-SE, E, NESTE CASO, QUAL É A SUA ESSÊNCIA? O QUE É QUE CRIA NO HOMEM UMA SEDE DE PODER INSACIÁVEL? SERÁ O VIGOR DE SUA ENERGIA VITAL, OU SERÁ UMA DEBILIDADE E INCAPACIDADE FUNDAMENTAL PARA EXPERIMENTAR A VIDA EXPONTÂNEA E AMOROSAMENTE? QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS QUE CONSTITUEM A FORÇA DESSES ANELOS? QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES SOCIAIS EM QUE, POR SUA VEZ, ESSAS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS SE ALICERÇAM?
 
Como vocês podem ver, essa obra vai tentar aprofundar a questão da liberdade em suas raízes mais profundas. Por isso, Fromm precisa analisar a interação dos fatores psicológicos, econômicos e ideológicos no processo social. Isso porque a imagem do ser humano no até o século XX era de um ser racional que agia de acordo com os seus interesses, mas a partir de então, passou-se a acreditar que o ser humano teria atingido um grau de racionalidade que deixou para trás as disputas em prol do seu interesse.
 
Por isso, quando os regimes totalitarios tiveram ascenção, o ser humano estava despreperado para isso, porque acreditava que a razão em seu ápice faria com que o ser humano chegasse em um grau de evolução que deixasse para trás todas as propensões para o mal. Fromm vai lembrar que alguns pensadores tentaram alertar para isso, por exemplo, Nietzche, Marx e Freud, cada um da sua maneira. Mas segundo, ele Freud foi mais além ao analisar as forças irracionais e insconscientes que em tese determinam o comportamento humano, que tinha sido negligenciadas pelo racionalismo moderno e que poderiam ser compreendidas racionalmente por certas leis.
Mas Fromm vai ressaltar que Freud por estar imbuído do espírito de sua época, não ultrapassou certos limites, não analisando o indivíduo normal e os fenômenos irracionais que agem na vida social e é essa a preocupação de Erich Fromm, analisar o processo dos fatores psicológicos no processo social.
 
Mas ele vai tentar mostrar a distinção da sua concepção da concepção freudiana. Por exemplo: Freud aceitou a crença tradicional em uma separação entre o ser humano e a sociedade, tanto quanto a doutrina tradicional da maldade da natureza humana como nós vimos por exemplo em Hobbes ao falar que o homem é o lobo do homem. Segundo ele a sociedade tende a refrear os impulsos humanos e essa supressão se chamaria de sublimação, por que iria formar a cultura pelo comportamento civilizado. A neurose seria um excesso de repressão que não daria conta de suprimir todos os impulsos pela sublimação. Nesse sentido, o ser humano teria uma natureza imutável o que mudaria seria a pressão que a sociedade exerceria ao indivíduo.
Freud sempre vê o indivíduo em sua relação com os outros, e Erich Fromm vai fazer uma comparação interessante.
O indivíduo para Freud tem impulsos dados biologicamente que devem ser satisfeitos, e sua relação com os outros se dá na intenção de satisfazê-los, essa relação é mesma do capitalismo, daquela ideia mecadológica de dar e receber.
Mas Fromm vai se distinguir de Freud pois para ele não há uma natureza humana estática, como se tivéssemos de um lado o indivíduo aparelhado pela natureza e de outro a sociedade satisfazendo seus impulsos ou frutrando suas propensões inatas. Evidentemente todo ser humano tem necessidades como fome, sede, satisfação sexual, etc, mas vários impulsos são resultado de um processo social, como por exemplo: amor, ódio, sede de poder, submissão, fruição sensual etc, e todos estes é que vão compor o caráter de cada indivíduo separadamente. Ou seja, a sociedade não possui apenas uma função de supressão dos instintos humanos, mas tem uma função criadaora deles. Um exemplo disso atual nós poderíamos dar em relação à propaganda: quantas vezes as pessoas não são levadas a comprar algo de que na verdade nem precisavam?
 
Para Fromm é preciso compreender o processo de criação do ser humano na História através de uma Psicologia Social, por que a natureza do ser humano, é também um produto cultural. Nós vimos isso na aula de antropologia filosófica quando ressaltava a diferença entre as condutas inatas e as condutas adquiridas. 
Erich Fromm vai mostrar que há uma certa naturalização de certas condutas como se eles sempre tivessem existido. Mas a título de exemplo, a sede de conquitas como fama e riquezas quase não estava presente no período medieval e vai se tornar cada vez mais preponderante com o surgimento do capitalismo. Ou seja, se fosse algo natural esse caráter deveria ser o mesmo em todas as épocas e culturas.
 
Mas Erich Fromm vai fazer questão de ressaltar que o ser humano não é apenas feito pela História, mas também é quem faz a história. Ou seja, voltando no exemplo anterior não é só o surgimento do capitalismo que vai fazer crescer a sede de conquitas no ser humano, mas exatamente essa ânsia de fama, sucesso e ímpeto de trabalhar é que contribuiram para a formação do capitalismo moderno.
 
E é nisso que há uma diferença essencial em relação à visão freudiana para quem a História seria o resultado de forças psicológicas que em si mesmas não seriam socialmente condicionadas descartando inclusive o papel do ser humano no processo social. Essa crítica vai além, abarcando aquelas teorias que tendem a elimiar o fator psicológico da sociologia, e aquelas que como o Behaviorismo tendem a reduzir esse fator psicológico a um tipo de adaptação aos padrões culturais. Ele vai dizer que Conquanto não haja uma natureza humana imutável, não podemos encará-la como sendo infinitamente maleável e apta a ajustar-se a qualquer espécie de condições sem formar um dinamismo psicológico próprio. A natureza humana, embora sendo o produto da evolução histórica, tem certos mecanismos e leis que compete à Psicologia descobrir.
 
E em falar em adaptação, Fromm para dar sequência na sua análise achou necessário distinguir o que a Psicologia chama de adaptação estática e adaptação dinâmica, na psicologia também é usado o termo ajustamento no lugar de adaptação. 
Basicamente a adaptação estática é aquela que leva em consideração uma mudança de hábito que não altera o caráter da pessoa. Por exemplo, um chinês que deixa de utilizar o Hashi e passa a comer com colher e garfo. Ele não tem uma alteração de seu caráter por esse motivo. Mas por exemplo uma criança que é abusada na infância ou que é agredida pelos pais, tende a ter um caráter formado pela adaptação a essa circunstância desenvolvendo uma violência contra os outros, ou um desprezo pela autoridade, ou ainda um complexo de inferioridade.
 
Além disso, Erich Fromm vai se perguntar o que leva o ser humano a se adaptar a quase todas as situações na vida e quais são os limites de sua adaptabilidade?
Ele vai lembra que há certos traços do caráter humano que são mais maleáveis que outros. Por exemplo, sede de poder, tendência à submissão, fruição do prazer sensual ou temor à sensualidade são traços que são formados em várias circunstâncias da vida, e não são flexíveis depois de incorporados ao caráter, mas são flexíveis no sentido de que cada indivíduo nas mesmas circunstâncias pode acabar formando um ou outro caráter, pois não há uma natureza humana fixa.
Já há outros impulsos que são parte indispensável da natureza humana, como a fome, a sede, a necessidade de dormir e apesar de cada indivíduo reagir de maneira diferente, chega um momento em que esses impulsos são insuportáveis para qualquer um. 
 
E Erich Fromm para simplificar vai dizer que para satisfazer todas essas necessidades imprenscindíveis, o ser humano precisa trabalhar e produzir, e esse trabalho se realiza numa sociedade já formada e num determinado sistema econômico, ou seja, num cenário que já está montado para ele e sua adaptabilidade vai se dar em relação a isso.
A necessidade de conservação individual vai fazer o indivíduo aceitar as condições em que tem que viver, lógico sem descartar a possibilidade de que ele tente fazer algumas mudanças políticas e econômicas. O que ele está dizendo é que sua personalidade é moldada pelo estilo vida que ele se defrontou desde criança.
 
Além das necessidades fisiológicas, Fromm vai lembrar que todo ser humano tem a necessidade imprescindível de relacionar-se com o mundo, de evitar a solidão. E para isso ele vai distinguir dois tipos de solidão: a solidão física e a solidão moral. A solidão física não é insuportável em si mesma, pois por exemplo: um prisioneiro político pode se sentir unido aos seus correligionários, ou um monge num monastério pode se sentir unido a Deus, hoje mais do que nunca com as redes sociais, mesmo nesta pandemia, podemos dizer que ficamos totalmente isolados em algum momento? Mas a solidão moral é o isolamento do indivíduo em si mesmo, mesmo que ele esteja entre várias pessoas e essa sim, pode trazer diversos disturbios mentais aos ser humano, como dizia Balzac na passagem do Sofrimento Inventor: o homem tem horror à solidão. 
E mais ainda, todo ser humano tem cooperar com os outros se quiser sobreviver. Não existe isolamento total que não considere isso, desde criança precisamos dos outros para conservação de nossa própria existência.
Outro fator importante, é que o significado e o rumo para a sua vida, só se dá na relação com o mundo e com os outros. Como diz Froom, se não for assim o indivíduo se sentirá como uma partícula de pó que será esmagada por sua insignificância individual.
E Erich Fromm vai terminar o capítulo que a seguinte síntese 
 
 
Antes de prosseguirmos, talvez seja interessante sintetizar o que foi mostrado relativamente ao nosso método geral de abordar os problemas da Psicologia Social. A natureza humana não é nem uma soma biologicamente fixada e inata de impulsos, nem tampouco uma sombra inanimada de padrões culturais a que ela se adapte suavemente; ela é o produto da evolução humana, porém também certos mecanismos e leis que lhe são inerentes. Há alguns fatores da natureza que são fixos e imutáveis: a necessidade de satisfazer impulsos fisiologicamente condicionados e a de evitar o isolamento e a solidão moral. Vimos que o indivíduo tem de aceitar radicado no sistema de produção e distribuição peculiar a qualquer dada sociedade. No processo de adaptação dinâmica à cultura formam-se diversos impulsos poderosos que motivam as ações e os sentimentos do indivíduo. Este pode ter ou não consciência de tais impulsos, mas de qualquer maneira eles são poderosos e exigem satisfação, uma vez formados. Esta discussão girará sempre em torno do tema principal deste livro: o de que o homem, quanto mais liberdade adquire na acepção de emergir da unição original com os outros homens e com a Natureza, tornando-se cada vez mais um “indivíduo”, não tem outra alternativa que não a de unir-se ao mundo da espontaneidade do amor e do trabalho produtivo, ou de procurar uma espécie de segurança por meio de vínculos com o mundo que lhe destruam a liberdade e a integridade do seu eu individual.