quarta-feira, 29 de julho de 2020

SÓCRATES AO DIZER QUE NADA SABIA PODERIA SER CONSIDERADO UM CÉTICO? | PR...





Sócrates é notável em muitos aspectos. Era um filósofo que
saía em praça pública e propunha um posicionamento indagador diante da
realidade; mas apesar disso jamais se colocou como detentor do saber, fazendo
uma analogia com sua mãe, dizia que também era parteiro, mas parteiro de
ideias, pois não se considerava sábio, assim como os sofistas o faziam, mas se
considerava como alguém ajudava aos outros a trazerem à luz o conhecimento. Por
isso, afirmava sempre: Só sei que nada sei. Diante disso, poderíamos dizer que Sócrates
era um filósofo cético?
Os céticos afirmavam de modo semelhante que de nada temos
certeza. E ao afirmarem isso negavam a possibilidade de certeza sobre qualquer
tipo de conhecimento, a não ser a certeza paradoxal de que nada mais é certo.
Mas, em primeiro lugar, é preciso compreender que o não-saber não é ceticismo,
mas uma ruptura diante do saber dos físicos e dos sofistas e da cultura
tradicional. Sócrates ao afirmar que nada sabia, ele não afirmava que esse
saber não seria possível.
Essa atitude não é uma simples humildade de quem admite a
sua ignorância, mas um pressuposto para todo tipo de conhecimento. Tem uma
história de um história de mestre zen chinês chamado Nan-in, que serve para
ilustrar isso.
Um dia, um professor universitário foi visitá-lo. Ele estava intrigado com a
influência que ele exercia nos jovens e da forma como era admirado por sua
sabedoria, sensatez, prudência e simplicidade. Este professor era interessado
no Zen Budismo e
já havia lido muitos livros a respeito.



Durante a conversa, o professor interrompia o mestre com frequência para
impor suas convicções, mostrando sua incapacidade de ouvir e aprender as sábias
lições que o mestre Nan-in tentava passar através de sua experiência.



Neste momento, o mestre ofereceu-lhe um chá e o serviu com toda calma. E
mesmo após a xícara estar cheia, o mestre continuou derramando o chá sobre a
xícara. O professor não se conteve: “Por acaso, não percebeu que a xícara está
completamente cheia e que já não cabe mais nenhuma gota?”



O mestre então, parou de derramar o chá sobre a xícara e disse calmamente:
“Assim como esta xícara, o senhor está cheio de opiniões e conceitos
pré-estabelecidos. Desta forma, como poderia entrar um novo ensinamento? Como
poderei dar-lhe novas ideias e perspectivas, se você não tem espaço pra elas? Se
você realmente busca ter conhecimento constante, então tem que esvaziar sempre
a sua xícara”.



Nesse sentido, Sócrates também ao mostrar a necessidade de reconhecer a
própria ignorância, mostrava a necessidade de nos desfazermos de nossos
preconceitos e opiniões para abraçarmos o verdadeiro saber. E, isso não tem
nada a ver com a negação do conhecimento, nem com o ceticismo.