quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A filosofia de Richard Rorty | Prof. Cristiano

Richard Rorty (Nova Iorque, 4 de Outubro de 1931 - Palo Alto, 8 de Junho
de 2007 foi um filósofo pragmatista estadunidense. A sua principal obra
é Filosofia e o Espelho da Natureza (1979).

Richard Rorty foi um filósofo que esteve em pé de guerra com a filosofia
durante toda a sua vida. Defendia-se contra a pretensão de absoluto do
pensamento analítico e renunciou durante décadas, a modo de protesto
contra as correntes tradicionais do seu âmbito, a dirigir uma cátedra de
filosofia (apenas aceitou até 1982 um lugar na Universidade de
Princeton). Rorty afirma que um por um breve período em sua formação
filosófica, foi quase sempre histórica. Mais tarde, depois de formado,
ele teve contato com a filosofia analítica, após as publicações das
últimas obras de Wittgenstein. E é a partir da concepção de
Wittgenstein, mais especificamente o que chama de segundo Wittgenstein
por causa de sua abordagem analítica, que Rorty vai construir sua
concepção de filosofia.
Para ele a filosofia ao longo do tempo acabou se profissionalizando e
deixou de abordar os problemas da vida, principalmente depois da
filosofia analítica dominante nos EUA, pois, para ele essa disciplina
acadêmica que se resolve na pesquisa obsessiva dos fundamentos do
conhecimento objetivo tirou a filosofia de sua dimensão histórica.
Na sua obra mais famosa: “A filosofia e o espelho da natureza” de 1979,
ele vai dizer:
"em geral os filósofos consideram sua disciplina como uma discussão de
problemas perenes, eternos (...) alguns destes referem-se à diferença
entre seres humanos e os outros seres, e se concentram nas questões que
se referem à relação entre mente e corpo. Outros problemas se referem à
legitimação das pretensões de conhecimento e concentram-se nas questões
que se referem aos fundamentos do conhecimento. Descobrir tais
fundamentos significa descobrir algo sobre a mente, e vice-versa" RORTY,
Richard. A filosofia e o espelho da natureza. Trad. Antônio Trânsito.
Rio de Janeiro: RelumeDumará, 1994. p.19

Ou seja, fica claro que a pretensão da filosofia tradicional é
estabelecer sistemas e teorias que seria eternizadas e resolveriam os
problemas relativos ao conhecimento. Essa ideia parte do ponto de vista
de que a filosofia compreenderia os fundamentos do conhecimento e
encontraria esses fundamentos a partir do estudo da mente, ou dos
processos mentais. A mente funcionaria como um grande espelho no qual
existem representações diversas do mundo e o conhecimento seria
exatamente o saber adquirido a partir de um método adequado. Ou seja, se
a filosofia é uma teoria do conhecimento, é preciso polir esse espelho
que é a mente para que haja exatidão.


Esse tipo de abordagem é chamada por ele de pensamento ou filosofia
fundacional tradicional. Nesse tipo de abordagem estariam inseridos
Descartes ao se voltar para a interioridade ou em Kant ao trazer para a
superfície as condições de possibilidade da experiência, ou seja, os a
priori. A conjugação dessas três ideias: mente como espelho da natureza,
o conhecimento como representação apurada e filosofia como busca e
posse dos fundamentos do conhecimento acabou profissionalizando a
filosofia como epistemologia, ou teoria do conhecimento, fugindo de uma
concepção histórica relacionada aos problemas da vida.


Na opinião de Rorty Wittgenstein, Heidegger e Dewey deixaram de lado
essa noção em prol de uma filosofia que ele chama de filosofia
edificante. O que significa isso. Enquanto os filósofos sistemáticos que
aceitam uma certa institucionalização de seu vocabulário ou de seus
escritos que passam a guiar uma tradição, os filósofos edificantes
rejeitam essa possibilidade e mais ainda contribuem para que sua
filosofia seja uma filosofia a ser superada quando for preciso, não
propõem construções teóricas e argumentações em que pensam ter capturado
as verdades definitivas.


Em suma, poderíamos dizer que os filósofos edificantes buscam a verdade,
mas jamais aceitam que sua doutrina seja catalogada como a “totalidade
da verdade”. Nesse sentido, ele resgata inclusive a ideia do ser humano
como sujeito do conhecimento, como criador e não apenas como um
multiplicador de ideias.


"pensar que manter aberta a discussão constitua uma tarefa suficiente
para a filosofia, que a sabedoria consista na habilidade de sustentar
uma conversa, significa considerar os seres humanos como criadores de
novos discursos mais do que seres a serem acuradamente descritos".


Ou seja, se a filosofia fundacional chegou ao seu fim, agora surge a
filosofia edificante como um projeto de educação e formação dirigidos às
descobertas e principalmente à verdade que não pode ser empacotada e
entregue como um produto por quem quer que seja.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O Personalismo de Emmanuel Mounier | Prof. Cristiano



O personalismo, como filosofia, surgiu na França. Não se
trata na verdade de um sistema filosófico, mas de uma filosofia que tem como
ideia central a noção de pessoa na sua individualidade, não-objetivação,
liberdade, inviolabilidade, criatividade e responsabilidade. O termo
personalismo já havia sido utilizado antes no início do século XX por Charles
Renouvier para indicar uma concepção filosófica que busca salvaguardar os
direitos, a dignidade e o valor da pessoa humana tentando superar o idealismo
hegeliano e positivismo naturalista. Com Emanuel Mounier o personalismo vai
ganhar uma dimensão muito maior. Ele fundou uma revista chamada Esprit e nesta
revista vários pensadores se reúniam tentando fundir a ideia de personalismo
com a ideia de solidariedade. Ou seja, eles tinham uma atitude subversiva à
ordem econômica, mas também consideravam inviável uma certa negação da pessoa
no coletivismo totalitário marxista. Então podemos dizer que eles buscavam um
meio-termo.
O personalismo, exatamente por buscar um certo testemunho da
verdade em todas as circunstâncias, evitava se ligar a qualquer particularismo,
poderíamos dizer hoje, de direita ou de esquerda. Ele nasceu e se desenvolveu
como movimento feito de ideias, criticas, estímulos,
controvérsias e iniciativas, jamais pretendendo se esclerosar na forma de
partido, bloqueado em urna ideologia fixa e aprisionado pela maquina
burocrática. Lembra um pouco Aristóteles quando mostrava que não existe uma
forma de governo ideal, pois toda forma de governo pode acabar sendo
corrompida: por exemplo, a democracia virar demagogia, a monarquia virar
tirania, a aristocracia virar oligarquia.
O personalismo surge como uma análise do mundo moderno,
principalmente diante das crises enfrentadas no século XX em especial a crise de
1929 que pôs fim àquela ideia de uma revolução em curso que só tinha como
destino a prosperidade. Interessante que ele surge após a primeira guerra
mundial, mas antes de várias atrocidades que vieram a surgir depois com a
segunda guerra mundial, os regimes totalitários, a guerra fria, os conflitos
imperialistas etc.