quarta-feira, 14 de setembro de 2016

ESPÍRITO DE MISÉRIA X ESPÍRITO DE CONSUMISMO

Tenho visto muitas pessoas abordarem o tema "espírito de miséria" ultimamente. Li recentemente um livro que inicialmente fez uma abordagem até bem elaborada sobre a cultura do levar vantagem em tudo. (omito aqui o nome e autor, pois não gosto de criar polêmica). O único equívoco é que colocou a expressão: "a cultura do brasileiro" e ainda deu exemplos pessoais de casos isolados de pessoas que vão ao estrangeiro. O próprio exemplo citado o contradiz, pois o autor disse que ficou indignado (não lembro a expressão) com o fato do brasileiro ter uma má fama no exterior e deu o exemplo de um colega de quarto que consumia algumas coisas e burlava de alguma maneira esse consumo. Contudo, o próprio autor é brasileiro e não o fez, segundo ele. Aí é que está a questão: a cultura é do brasileiro?

Essa cultura do levar vantagem vem desde os tempos antigos, aliás alguém já ouviu falar num tal de Jacó que roubou o direito de primogenitura do irmão... Mas o que me levou a escrever essas linhas foi o fato da abordagem também partir para outras questões: o senso de aproveitamento que muitas pessoas possuem. Na maneira como foi exposta, praticamente era implícito: "isso é coisa de pobre". Nesse momento, o tom do livro se tornou cômico, mas ainda mantinha uma ideia central: o apego à coisas velhas. Sabemos daquelas pessoas que não se desfazem nem sequer de um prego enferrujado, são acumuladoras, e o pior, de lixo. Mas também não podemos esquecer que em muitos casos a única sobrevivência possível é aquela baseada no aproveitamento das coisas que para outros seriam consideradas lixo. O espírito de miséria, a meu ver, não está no fato de simplesmente eu não jogar uma calça rasgada fora da qual muito gosto, ou de aproveitar latinhas de leite para plantar alguma flor. O espírito de miséria está ligado ao espírito do apego, aí é que mora o problema.

Por outro lado, temos aquelas pessoas que não são acumuladoras, mas são altamente consumistas. Se uma roupa descorou um pouco, imediatamente me desfaço dela, se um celular se tornou obsoleto (aliás, hoje em dia, o celular se torna obsoleto em poucas horas) compro outro, se sobrou um pouco de feijão na panela, jogo-o fora sem pensar nos que passam fome ou necessidades. Será mesmo que essa atitude é oposta ao espírito de miséria?

Para  mim, a equação é bem clara: espírito de miséria = avareza e apego; espírito de consumismo=avareza e apego, logo o espírito de miséria ao ser substituído pelo espírito do consumismo não traz transformações integrais ao ser humano, apenas o torna mais bem visto pelos demais. Seria preciso propagar uma ideia boa, mas sem substituí-la por outra pior. Mudar a aparência das coisas não resolve nada. Mas sabemos que as aparências não enganam, o ser humano é que se engana com as aparências e, ciente disso, continua propagado essa ideia como se o ter fosse igual ao ser...

Só pra refletir.