terça-feira, 24 de maio de 2016

Estudar para que?


Por: Cristiano de Paiva Barroso

Fico observando os comentários em vídeos no youtube, em sites de relacionamento, e em blogs sobre psicopedagogia relacionados à falta de interesse dos alunos pelo aprendizado. Em todos os comentários, tenho a nítida impressão de que o problema no ensino é culpa única e exclusivamente do professor. Não vou aqui defender aquele profissional que só pensa em ganhar dinheiro, se é que seja possível ganhar dinheiro no Brasil sendo professor. Mas o que me deixa consternado é o fato de que a cada dia as pessoas estão transferindo a própria responsabilidade pelos sucessos para outros.

"O aluno não é desinteressado, é professor que não sabe motivá-lo!", "o médico não é incompetente, ele ganha pouco e não pode ter empatia pelo paciente", "o engenheiro não cometeu erros, foram os pedreiros da obra que não seguiram as instruções", "o motorista de ônibus não é mal educado, ele está estressado por causa do trânsito da cidade". Esses exemplos devem ser tomados como exemplos, isto é, não podem ser generalizações. O que devo ressaltar aqui: cabe ao professor motivar os alunos mesmo que não haja nenhum interesse por parte desses? Cabe ao paciente compreender em sua situação frágil que o médico possui outros problemas e não pode lhe dar a devida atenção? Cabe aos pedreiros da obra toda a responsabilidade pelos insucessos mesmo não sendo devidamente orientados e supervisionados (lógico que a falta de supervisão também pode se tornar subterfúgio para se eximir de responsabilidade). Cabe ao passageiro de um coletivo deixar de exercer o seu direito de usufruir com tranquilidade do transporte público porque o trânsito é estressante para o motorista?

Como eu disse, são só exemplos. Há muitos alunos interessadíssimos e seu sucesso vai depender não somente de seu empenho, mas do empenho daquele lhes ensina. Há muitos engenheiros, médicos e motoristas de ônibus competentes, atenciosos e prestativos, mas esporadicamente podem acabar passando por situações que tais quais qualidades sejam ofuscadas. O que não se pode admitir é que a responsabilidade por nossos insucessos seja transferida a outrem. Como diria Jean-Paul Sartre: "não importa o que fizeram de nós, importa o que fizemos com o que fizeram de nós".

quarta-feira, 11 de maio de 2016