Por: Cristiano de Paiva Barroso
Fico
observando os comentários em vídeos no youtube, em sites de
relacionamento, e em blogs sobre psicopedagogia relacionados à falta de
interesse dos alunos pelo aprendizado. Em todos os comentários, tenho a
nítida impressão de que o problema no ensino é culpa única e
exclusivamente do professor. Não vou aqui defender aquele profissional
que só pensa em ganhar dinheiro, se é que seja possível ganhar dinheiro
no Brasil sendo professor. Mas o que me deixa consternado é o fato de
que a cada dia as pessoas estão transferindo a própria responsabilidade
pelos sucessos para outros.
"O
aluno não é desinteressado, é professor que não sabe motivá-lo!", "o
médico não é incompetente, ele ganha pouco e não pode ter empatia pelo
paciente", "o engenheiro não cometeu erros, foram os pedreiros da obra
que não seguiram as instruções", "o motorista de ônibus não é mal
educado, ele está estressado por causa do trânsito da cidade". Esses
exemplos devem ser tomados como exemplos, isto é, não podem ser
generalizações. O que devo ressaltar aqui: cabe ao professor motivar os
alunos mesmo que não haja nenhum interesse por parte desses? Cabe ao
paciente compreender em sua situação frágil que o médico possui outros
problemas e não pode lhe dar a devida atenção? Cabe aos pedreiros da
obra toda a responsabilidade pelos insucessos mesmo não sendo
devidamente orientados e supervisionados (lógico que a falta de
supervisão também pode se tornar subterfúgio para se eximir de
responsabilidade). Cabe ao passageiro de um coletivo deixar de exercer o
seu direito de usufruir com tranquilidade do transporte público porque o
trânsito é estressante para o motorista?
Como
eu disse, são só exemplos. Há muitos alunos interessadíssimos e seu
sucesso vai depender não somente de seu empenho, mas do empenho daquele
lhes ensina. Há muitos engenheiros, médicos e motoristas de ônibus
competentes, atenciosos e prestativos, mas esporadicamente podem acabar
passando por situações que tais quais qualidades sejam ofuscadas. O que
não se pode admitir é que a responsabilidade por nossos insucessos seja
transferida a outrem. Como diria Jean-Paul Sartre: "não importa o que
fizeram de nós, importa o que fizemos com o que fizeram de nós".
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