terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A FILOSOFIA E O PENSAMENTO CONCEITUAL



A filosofia já foi definida de várias maneiras. A palavra, de origem grega, é composta de phílos, que designa o ‘amigo, amante’; e sophía, que significa ‘sabedoria’. O significado de filosofia, portanto, é amor ou amizade pela sabedoria. Se a filosofia é um amor pela sabedoria, isso
quer dizer que ela não é “a” sabedoria, mas busca da sabedoria. O filósofo Aristóteles definiu o ser humano como um “animal portador da palavra, que pensa”, isto é, um “animal racional”. Segundo ele, “a filosofia é a atividade mais digna de ser escolhida pelos homens”, uma vez que nela o ser humano exercita sua faculdade racional. É também uma atividade capaz de proporcionar a felicidade, pois vivendo filosoficamente o ser humano está vivendo de acordo com sua própria natureza.
O filósofo Michel Foucault procurou mostrar que há duas formas de compreender a filosofia:
• como busca da sabedoria, entendendo o conhecimento como algo
que vem de fora;
• como um trabalho de cada um sobre si mesmo, um modo de construir a própria vida.
No primeiro caso, a filosofia é a busca de um saber que está fora de cada um de nós. No segundo, é uma prática de vida, um pensamento sobre nós mesmos, um modo de fazermos com que nossa vida seja melhor.
Essas duas visões levam a uma terceira: o pensamento filosófico como uma reflexão interna que questiona todos os conhecimentos vindos de fora. Pensar filosoficamente é, portanto, refletir sobre os tais diversos problemas e situações “partindo do zero”, ou seja, sem aceitar
automaticamente os conhecimentos recebidos. Na reflexão em busca do conhecimento, a filosofia elabora conceitos. Os conceitos não estão prontos e acabados, mas estão sempre sendo criados e recriados de acordo com as circunstâncias, de acordo com as necessidades, dependendo dos problemas enfrentados a cada momento. Cada filósofo cria seus próprios conceitos ou recria conceitos de outros filósofos. Ao criar ou recriar conceitos, o filósofo está também agindo sobre si mesmo, criando a si mesmo, construindo sua vida. Mas isso não significa que apenas alguns privilegiados possam praticar a filosofia. Segundo o filósofo italiano Antonio Gramsci, “todos os homens são filósofos”, na medida em que todo ser humano, de uma forma mais ou menos intensa e duradoura, pensa sobre os problemas que enfrenta em sua vida. De certo modo, todo ser humano se utiliza de conceitos, ou até mesmo os formula, em alguns momentos de sua vida.
Os filósofos, porém, dedicam-se à filosofia de modo mais intenso, fazendo dessa atividade sua profissão e sua vida. Eles problematizam diversas questões, pensam, criam conceitos, escrevem textos e livros. Alguns desses conceitos atravessam os séculos. Embora tenham sido elaborados em outra época e em um contexto histórico diferente, podem despertar nossa reflexão e ajudar na formulação de nossos próprios conceitos. Esses conceitos são importantes como referência, mas não são estáticos: mudam conforme o contexto e as motivações de quem está refletindo sobre eles.