quinta-feira, 28 de abril de 2016

E por falar em corrupção...


 

Ver a votação do impeachment na Câmara deixou muita gente boquiaberta. Muitos ficaram abismados com a qualidade dos discursos dos que votaram a favor ou contra o  impeachment. Outros ficaram convencidos de que não há salvação para a nossa situação visto que até quem conduzia o processo era um investigado por corrupção. Não vou entrar no mérito se deve ou não haver o  impeachment, afinal essa discussão está desgastada e só terá fim quando se confirmar se houve ou não crime de responsabilidade fiscal como previsto na Constituição, contudo, não cabe a nós, leigos, essa confirmação. Por ora, deixemos nossas posições políticas e pensemos um pouco sobre como nos comportamos no dia a dia.
 
Tem muita gente que se diz de conduta ilibada, mas quando questionada em suas atitudes, reconhece-as como legítimas, todavia, quem legitima essas atitudes? Falei num Post anterior sobre isso, a democracia está sendo deturpada: “não é só porque todo mundo faz, que uma atitude imoral passa a ser legitimada”.  

Inúmeras são as situações em que a corrupção está presente, mesmo que de maneira camuflada, por exemplo: falsificar a carteira de estudante para pagar meia entrada em cinema; roubar sinal de TV a cabo ou de internet; furar fila; achar algo que sabe de quem é e não devolver; comprar um imóvel em aglomerado com o único objetivo de receber indenização do governo; burlar dados para receber um benefício como o bolsa-família; mentir no endereço da residência para ganhar uma quantidade maior de vales-transportes e vendê-los; responder chamada ou "bater ponto" pelo colega; embolsar um troco que veio a mais mesmo percebendo o equívoco; fingir estar dormindo no banco preferencial ou parar em vaga de deficientes; acelerar o veículo para impedir que um veículo que ligou a seta venha para  a via; comprar um produto muito abaixo do preço desconfiando da sua origem ilícita; plagiar trabalho de um colega ou fazer uma cópia integral da internet; pagar alguém para fazer um trabalho escolar; colar na prova seja de escola, concurso ou vestibular; fumar em ambientes públicos; tentar dar um jeitinho para ser atendido primeiro em algum procedimento; procrastinar com o trabalho acessando redes sociais no horário  impróprio etc. Por aí vai. Se eu fosse enumerar todas, ficaria a noite inteira escrevendo e ninguém iria dar conta de ler.
 
Enfim, diversos são os subterfúgios das pessoas que agem dessa maneira, por exemplo: “Ah! Eu tenho que falar que moro longe mesmo, meu salário é muito baixo e preciso completar com o vale-transporte”; “Ah! Eu ganho pouco, para que dar o sangue por esse emprego!”; “eu comprei esse videogame baratinho sem nota fiscal, mas não dá pra saber com certeza se é roubado!”. O que as pessoas esqueceram é de que são responsáveis pelas suas escolhas: se eu preciso ganhar mais e ser reconhecido tenho que batalhar por isso (nesse sentido, por exemplo, a greve é legítima), não burlar uma norma para isso; se eu quero comprar algo barato posso buscar locais confiáveis ou adquirir de alguém que confirme a procedência; se eu não quero me matar de trabalhar, não posso esquecer que sou pago para trabalhar (não é preciso dar o sangue, mas cruzar os braços é uma forma de corrupção, pois se ganha por um trabalho que não é executado). Desculpas diversas também podem ser dadas pelos políticos que hoje são criticados por nós. Longe de mim defender a corrupção dos políticos, pois a sociedade é corrupta. Ao contrário, acho que todos têm que fugir da lógica do “levar vantagem em tudo”, só assim poderemos ter um fio de esperança de que as coisas mudem.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Anomia social: inversão de valores e invenção de valores



Vivemos num mundo de tamanha anomia social que os valores estão invertidos, o certo ficou errado, o errado ficou certo: "deixa de ser bobo...todo mundo faz isso" (e isso não se restringe apenas ao campo da política). As pessoas se deixam levar por esse discurso como se o que fosse feito pela maioria tivesse sido legitimado instantaneamente. A democracia aqui é utilizada de forma equivocada. Os valores são deturpados em prol de uma maioria. Se Sócrates, o filósofo grego defensor da Democracia (claro que de um outro tipo de democracia muito diferente da nossa) ainda fosse vivo, ele beberia cicuta, de boa vontade, sem nem mesmo ser necessário um julgamento.

Por outro lado, estamos vivendo a era do politicamente correto. Inventam-se diversos estratagemas para se evitar qualquer tipo de atrito, mas sem analisar concretamente as consequências. Por exemplo: não se chama mais um negro de negro, por receio de ser acusado de racismo, mas sim de afrodescendente. Contudo, isso me soa como uma ironia estranha, como se a palavra "afrodescendente" ocultasse qualquer preconceito e, em muitos casos, é um mero eufemismo para o que pessoa realmente quer expressar. O respeito pelo outro, que em nada difere de nós enquanto ser humano, deveria ser o suficiente para se evitar qualquer tipo de preconceito e discriminação. Mas não, foi necessário essa invenção.

Além disso, exatamente por causa da hipérbole nesse "politicamente correto", não posso me levantar para dar lugar a uma pessoa no ônibus que penso estar grávida ou que me parece cansada, ou idosa, que tenho que analisar todas as nuances: "ela está grávida mesmo, ou a barriga está grande", "ela vai pensar que eu a estou achando velha" etc. Na dúvida, levanto-me sem dizer nada e vou para o final do ônibus como se fosse descer, assim evito qualquer turbulência por uma ação bem intencionada que pode acabar mal.

E por falar em nuances, o que dizer então das nossas falas cotidianas que devem ser solapadas para evitar interpretações errôneas, por exemplo, quando conversamos com duas mulheres ou dois homens que possuem um relacionamento (para não ser acusado de homofóbico), com uma mulher mais velha que namora com um rapaz mais jovem (para não ser acusado de preoceituoso), com uma mulher que dirige uma grande empresa superando os estereótipos machistas (para não ser acusado de sexista), e por aí vai... Na dúvida, é melhor ficar calado. Ah! E nem pense em fazer piada com uma dessas situações, você acabará muito mal visto.

Em suma, a sociedade inverteu os valores de tal maneira que se perdeu num redemoinho sem destino e acabou criando outros valores e subterfúgios que nos fazem esquecer o que realmente importa. Aristóteles dizia que "o homem é um ser social", e com isso, resgata-se que o verdadeiro valor é aquele nos permite viver numa harmonia social. Se formos consultar nossa consciência a cada ação, o que fará a diferença? O respeito real pelo outro, pelo  que ele é (que, diga-se de passagem, já seria o suficiente para se evitar tanto o preconceito quanto atitudes imorais - como a violência, corrupção etc), ou apenas uma falsa imagem (constantemente criticada por Platão na "Alegoria da Caverna", por isso para ele "falsa imagem" é um pleonasmo). Eu ficaria com a primeira opção, e você?




quarta-feira, 6 de abril de 2016

Ouvir dizer não é saber!

Infelizmente estamos na época do ouvi dizer. As pessoas são levadas pelos meios de comunicação a serem meras repetidoras midiáticas: "Ah! Ouvi dizer que o Lula foi preso", "Ah! Ouvi dizer que a Dilma está envolvida no escândalo da Petrobrás", "Ouvi dizer que o Sérgio Moro vai prender o Michel Temer", "Ouvi dizer que o Joaquim Barbosa deve impostos na Flórida", isso nos restringindo apenas aos assuntos políticos em pauta atualmente.


As pessoas perderam a capacidade de pensar por si próprias e, como já não bastasse confiar cegamente em tudo que vem da ciência com a velha expressão: "está cientificamente comprovado que...", agora repetem o "ouvi dizer" como se fosse uma verdade já estabelecida.


Veja bem, não estou defendendo que não deva haver investigação séria de todo e qualquer crime que ocorra, mas, antes da comprovação, ainda vale o Princípio Constitucional do in Dubio Pro Reo (uma expressão latina que significa literalmente na dúvida, a favor do réu).

O que eu vejo na verdade é uma gama de jogos de interesses difusos e escusos, pessoas que não estão buscando o bem da nação mas manipulação partidária. Não importa se eu sou pró ou contra PT, o que importa é simplesmente a verdade que anda esquecida.

E alguém me diz em resposta a essas observações: "mas é bom que haja impeachment da Dilma, pois aí os demais vão agir corretamente a fim de que se evite que ocorra o mesmo com eles". Quanta inocência! Tudo bem que o medo de ser punido pode evitar que o crime aconteça, mas a possibilidade da impunidade poderá prevalecer principalmente se os atuais interesses desses que comandam esse "golpe", se mantiverem.

Lembrem-se de que estamos em um Estado Democrático de Direito, se quiserem mudar isso, não basta um impeachment, é necessário uma reforma política geral. Mas qual seria a saída? Ainda não me convenceram que haja outro regime melhor que Democracia. Se ela parece falida, é porque nós deixamos que isso aconteça. Tudo bem que estamos numa Democracia Representativa, e não participamos diretamente das decisões, mas urge o momento em que nós deixemos de olhar para o nosso próprio umbigo e pensemos no interesse geral, principalmente no momento das eleições. Fazendo uma analogia tosca, lembram-se do dia em que casamento era um compromisso para a vida toda? Infelizmente muita gente hoje casa pensando: "se não der certo, a gente separa". Estão querendo fazer o mesmo com a política!!!