sexta-feira, 15 de abril de 2016

Anomia social: inversão de valores e invenção de valores



Vivemos num mundo de tamanha anomia social que os valores estão invertidos, o certo ficou errado, o errado ficou certo: "deixa de ser bobo...todo mundo faz isso" (e isso não se restringe apenas ao campo da política). As pessoas se deixam levar por esse discurso como se o que fosse feito pela maioria tivesse sido legitimado instantaneamente. A democracia aqui é utilizada de forma equivocada. Os valores são deturpados em prol de uma maioria. Se Sócrates, o filósofo grego defensor da Democracia (claro que de um outro tipo de democracia muito diferente da nossa) ainda fosse vivo, ele beberia cicuta, de boa vontade, sem nem mesmo ser necessário um julgamento.

Por outro lado, estamos vivendo a era do politicamente correto. Inventam-se diversos estratagemas para se evitar qualquer tipo de atrito, mas sem analisar concretamente as consequências. Por exemplo: não se chama mais um negro de negro, por receio de ser acusado de racismo, mas sim de afrodescendente. Contudo, isso me soa como uma ironia estranha, como se a palavra "afrodescendente" ocultasse qualquer preconceito e, em muitos casos, é um mero eufemismo para o que pessoa realmente quer expressar. O respeito pelo outro, que em nada difere de nós enquanto ser humano, deveria ser o suficiente para se evitar qualquer tipo de preconceito e discriminação. Mas não, foi necessário essa invenção.

Além disso, exatamente por causa da hipérbole nesse "politicamente correto", não posso me levantar para dar lugar a uma pessoa no ônibus que penso estar grávida ou que me parece cansada, ou idosa, que tenho que analisar todas as nuances: "ela está grávida mesmo, ou a barriga está grande", "ela vai pensar que eu a estou achando velha" etc. Na dúvida, levanto-me sem dizer nada e vou para o final do ônibus como se fosse descer, assim evito qualquer turbulência por uma ação bem intencionada que pode acabar mal.

E por falar em nuances, o que dizer então das nossas falas cotidianas que devem ser solapadas para evitar interpretações errôneas, por exemplo, quando conversamos com duas mulheres ou dois homens que possuem um relacionamento (para não ser acusado de homofóbico), com uma mulher mais velha que namora com um rapaz mais jovem (para não ser acusado de preoceituoso), com uma mulher que dirige uma grande empresa superando os estereótipos machistas (para não ser acusado de sexista), e por aí vai... Na dúvida, é melhor ficar calado. Ah! E nem pense em fazer piada com uma dessas situações, você acabará muito mal visto.

Em suma, a sociedade inverteu os valores de tal maneira que se perdeu num redemoinho sem destino e acabou criando outros valores e subterfúgios que nos fazem esquecer o que realmente importa. Aristóteles dizia que "o homem é um ser social", e com isso, resgata-se que o verdadeiro valor é aquele nos permite viver numa harmonia social. Se formos consultar nossa consciência a cada ação, o que fará a diferença? O respeito real pelo outro, pelo  que ele é (que, diga-se de passagem, já seria o suficiente para se evitar tanto o preconceito quanto atitudes imorais - como a violência, corrupção etc), ou apenas uma falsa imagem (constantemente criticada por Platão na "Alegoria da Caverna", por isso para ele "falsa imagem" é um pleonasmo). Eu ficaria com a primeira opção, e você?




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