quarta-feira, 31 de julho de 2019

A FELICIDADE NO ESTOICISMO | PROFESSOR CRISTIANO







Estoicos: amor ao destino
Ainda abordando o conceito de
felicidade na história da filosofia, vamos  falar de uma escola conhecida como estoicismo,
por causa da referência ao local onde o fundador dessa escola Zenão de Cício
(c. 335-264 a.C.), reunia os alunos e administrava suas aulas.
O que é felicidade para o
estoicismo? Na conceção dos estoicos, feliz aquele que vive de acordo com a ordem
cósmica
, aceitando e amando o próprio destino. Mas peraí, existe
destino? Se ele existe isso não seria um motivo para a infelicidade tendo em
vista que o ser humano não seria livre para fazer suas escolhas e ser o que
quiser? Vamos entender um pouco isso.
A física ou cosmologia
do estoicismo concebe o universo como kósmos, “universo ordenado e
harmonioso”, composto de um
princípio passivo (a matéria) e de um
princípio ativo, racional, inteligente (o logos),
também chamado por eles de providência – o qual regeria toda a
realidade, seria o equivalente ao que a nossa cultura cristã ocidental chama de
Deus.
Mas ao contrário da nossa
cultura que considera Deus em sua transcendência, ou seja, fora do mundo ou
acima dele, o estoico vai considerar Deus imanente no mundo.
Ok, baseado nessa ideia de uma
providência imanente no mundo, eles vão considerar que tudo o que existe e que acontece
tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte da inteligência universal e
divina. Daí já vemos uma distinção da filosofia epicurista que não enxerga um
telos (finalidade) no acaso. Para o estoicismo tudo é necessário, ou
seja, não pode ser diferente do que é, pois, no kósmos, tudo está
predeterminado, isso inclui a vida de cada um, ou seja, cada pessoa nasce com
um destino definido.
Mas esse destino seria algo
negativo? Na verdade para o estoico não, pois tudo o que acontece deve ser bom,
pois é animado pelo bem contido na providência que visa o bem do todo
o cosmos, ou seja o bem do todo
é considerado superior ao bem individual.
Nesse sentido, felicidade não
ter tudo o que se deseja como geralmente se pensa. Nisso vemos uma semelhança
com os epicuristas que dividiam os desejos em relação à sua necessidade e
natureza. Mas para o estoicos a divisão seria um pouco diferente: coisas que dependem
de nós
e coisa que não dependem de nós ou só de nós.
Depende de nós, por exemplo, cuidar
da saúde, elaborar um bom trabalho, ser

bom e generoso com os mais necessitados; não depende de nós (ou só de

nós), por exemplo, ter boa saúde, ganhar muito dinheiro trabalhando, acabar com
a fome do mundo. Vejam bem, o fato de eu não ter garantia por exemplo de boa
saúde, não significa que eu não vou cuidar da saúde, pois isso sim depende de
mim. Vejo muita gente em determinados trabalhos que cruzam os braços, pois
dizem eu não vou revolver o problema do mundo, mas ninguém está pedindo pra
resolver o problema do mundo, tipo aquelas pessoas que morrem de dó dos
africanos famintos que passam na televisão, mas não fazem nada pra mudar a
situação ao seu redor.
Ok. E por que isso é importante
entender para o alcance da felicidade? Como eu disse, o estoicismo considera o
todo, ou seja o cosmos como a perfeição e mesmo que exista uma ordem cósmica
predeterminada, há coisas que dependem sim de nós, e é exatamente aí que podermos
garantir nossa felicidade: a aplicação de uma faculdade que todos temos – a vontade.
É a vontade que nos permite querer ou não querer as coisas. Nada nem ninguém pode
me obrigar a querer o que não quero, ou a não querer o que quero. Por exemplo, um
ladrão me obriga a entregar o meu célular, mas ele não pode me obrigar a querer
entregá-lo. Ou seja, é na vontade que reside a minha liberdade. É desse modo,
para os estoicos, que posso construir minha felicidade: usando minha vontade
para querer apenas aquilo sobre o que tenho

poder, que depende de mim e que me faz verdadeiramente feliz.
Agora em relação às coisas que
dependem de nós, também podemos fazer uma distinção entre aquelas que seriam
boas, más, já a as coisas que não dependem de nós obviamente são ou
indiferentes.
boas – que devemos querer e buscar durante
a vida para sermos felizes, ou seja, as virtudes, como ser prudente,
justo, corajoso, generoso etc.
más – devemos evitar durante a vida
se queremos ser felizes, por exemplo, os vícios, as paixões, como
imprudência, injustiça, covardia, gula, raiva.


indiferentes – são as que não dependem de nós e com as quais não devemos nos
preocupar se quisermos ser felizes. É o caso por exemplo da morte, do poder, da
saúde ou doença, da riqueza ou pobreza, entre outras.
Enfim, para ser feliz então,
segundo os estoicos temos que conduzir bem nossos pensamentos, evitamos as coisas
más
não nos preocupamos com as coisas indiferentes, para que não
tenhamos juízos ou opiniões equivocadas sobre os acontecimentos. Desse
modo, atinge a apatia (eliminação de paixões ou vícios) e a ataraxia (imperturbabilidade
da alma), e como quem é imperturbável não tem tristeza, que não é triste,
fazendo uma petição de princípio aqui, é feliz.
O objetivo principal da ética
estoica é Dominar as paixões (aqui entendidas como vícios). Para isso, o
esforço em controlar os pensamentos será fundamental, pois é o
pensamento equivocado que gera as condições para

o aflorar das paixões.
Como exemplo, vamos ler um
trecho de Epiteto (55-135), filósofo estoico que foi escravo em Roma
durante a maior parte de sua vida:
LEMBRA-TE QUE
NÃO É NEM AQUELE QUE TE DIZ INJÚRIAS, NEM AQUELE QUE TE BATE, QUEM TE ULTRAJA,
MAS SIM A OPINIÃO QUE TENS DELES, E QUE TE FAZ OLHÁ-LOS COMO GENTE POR QUEM ÉS
ULTRAJADO. QUANDO ALGUÉM TE MAGOA OU TE IRRITA, SAIBA QUE NÃO É AQUELE HOMEM QUE TE IRRITA, MAS SIM TUA OPINIÃO. ESFORÇA-TE, PORTANTO, ACIMA DE TUDO, PARA
NÃO TE DEIXAR LEVAR POR TUA IMAGINAÇÃO.

Enfim, os estoicos defendem também a necessidade de um amor fati,
expressão latina que significa “amor aos fatos, aos acontecimentos”, como o
próprio destino.

Já que tudo é animado pelos princípios racionais que governam o universo, de
tal maneira que tudo o que acontece e não depende de mim é necessário e bom,
mesmo a morte de um ente querido, por exemplo, deve ser tomada como um
acontecimento bom, no sentido de que faz parte da ordem universal.

Por isso, os estoicos entendiam que uma pessoa não deve se revoltar por ter
nascido com uma deficiência física ou por ser feia, pobre. Tudo isso não
depende dela. A pessoa deve não apenas aceitar o peso de seu destino, mas
também querê-lo, isto é, amar o que é, o que tem e o que vive. Ou seja, deve
compreender que faz parte da totalidade do cosmos e ter amor por seu destino,
dessa maneira, segundo os estoicos, essa pessoa será feliz.
Vejam bem, não é um convite ao marasmo,
à  preguiça, mas um convite à ação
calculada, ou seja, como eu sempre digo, a não jogarmos fora a água do banho
junto com o bebê, nem ficarmos dando tiro de canhão em mosquito.

A FELICIDADE NO ESTOICISMO | PROFESSOR CRISTIANO







Estoicos: amor ao destino
Ainda abordando o conceito de
felicidade na história da filosofia, vamos  falar de uma escola conhecida como estoicismo,
por causa da referência ao local onde o fundador dessa escola Zenão de Cício
(c. 335-264 a.C.), reunia os alunos e administrava suas aulas.
O que é felicidade para o
estoicismo? Na conceção dos estoicos, feliz aquele que vive de acordo com a ordem
cósmica
, aceitando e amando o próprio destino. Mas peraí, existe
destino? Se ele existe isso não seria um motivo para a infelicidade tendo em
vista que o ser humano não seria livre para fazer suas escolhas e ser o que
quiser? Vamos entender um pouco isso.
A física ou cosmologia
do estoicismo concebe o universo como kósmos, “universo ordenado e
harmonioso”, composto de um
princípio passivo (a matéria) e de um
princípio ativo, racional, inteligente (o logos),
também chamado por eles de providência – o qual regeria toda a
realidade, seria o equivalente ao que a nossa cultura cristã ocidental chama de
Deus.
Mas ao contrário da nossa
cultura que considera Deus em sua transcendência, ou seja, fora do mundo ou
acima dele, o estoico vai considerar Deus imanente no mundo.
Ok, baseado nessa ideia de uma
providência imanente no mundo, eles vão considerar que tudo o que existe e que acontece
tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte da inteligência universal e
divina. Daí já vemos uma distinção da filosofia epicurista que não enxerga um
telos (finalidade) no acaso. Para o estoicismo tudo é necessário, ou
seja, não pode ser diferente do que é, pois, no kósmos, tudo está
predeterminado, isso inclui a vida de cada um, ou seja, cada pessoa nasce com
um destino definido.
Mas esse destino seria algo
negativo? Na verdade para o estoico não, pois tudo o que acontece deve ser bom,
pois é animado pelo bem contido na providência que visa o bem do todo
o cosmos, ou seja o bem do todo
é considerado superior ao bem individual.
Nesse sentido, felicidade não
ter tudo o que se deseja como geralmente se pensa. Nisso vemos uma semelhança
com os epicuristas que dividiam os desejos em relação à sua necessidade e
natureza. Mas para o estoicos a divisão seria um pouco diferente: coisas que dependem
de nós
e coisa que não dependem de nós ou só de nós.
Depende de nós, por exemplo, cuidar
da saúde, elaborar um bom trabalho, ser

bom e generoso com os mais necessitados; não depende de nós (ou só de

nós), por exemplo, ter boa saúde, ganhar muito dinheiro trabalhando, acabar com
a fome do mundo. Vejam bem, o fato de eu não ter garantia por exemplo de boa
saúde, não significa que eu não vou cuidar da saúde, pois isso sim depende de
mim. Vejo muita gente em determinados trabalhos que cruzam os braços, pois
dizem eu não vou revolver o problema do mundo, mas ninguém está pedindo pra
resolver o problema do mundo, tipo aquelas pessoas que morrem de dó dos
africanos famintos que passam na televisão, mas não fazem nada pra mudar a
situação ao seu redor.
Ok. E por que isso é importante
entender para o alcance da felicidade? Como eu disse, o estoicismo considera o
todo, ou seja o cosmos como a perfeição e mesmo que exista uma ordem cósmica
predeterminada, há coisas que dependem sim de nós, e é exatamente aí que podermos
garantir nossa felicidade: a aplicação de uma faculdade que todos temos – a vontade.
É a vontade que nos permite querer ou não querer as coisas. Nada nem ninguém pode
me obrigar a querer o que não quero, ou a não querer o que quero. Por exemplo, um
ladrão me obriga a entregar o meu célular, mas ele não pode me obrigar a querer
entregá-lo. Ou seja, é na vontade que reside a minha liberdade. É desse modo,
para os estoicos, que posso construir minha felicidade: usando minha vontade
para querer apenas aquilo sobre o que tenho

poder, que depende de mim e que me faz verdadeiramente feliz.
Agora em relação às coisas que
dependem de nós, também podemos fazer uma distinção entre aquelas que seriam
boas, más, já a as coisas que não dependem de nós obviamente são ou
indiferentes.
boas – que devemos querer e buscar durante
a vida para sermos felizes, ou seja, as virtudes, como ser prudente,
justo, corajoso, generoso etc.
más – devemos evitar durante a vida
se queremos ser felizes, por exemplo, os vícios, as paixões, como
imprudência, injustiça, covardia, gula, raiva.


indiferentes – são as que não dependem de nós e com as quais não devemos nos
preocupar se quisermos ser felizes. É o caso por exemplo da morte, do poder, da
saúde ou doença, da riqueza ou pobreza, entre outras.
Enfim, para ser feliz então,
segundo os estoicos temos que conduzir bem nossos pensamentos, evitamos as coisas
más
não nos preocupamos com as coisas indiferentes, para que não
tenhamos juízos ou opiniões equivocadas sobre os acontecimentos. Desse
modo, atinge a apatia (eliminação de paixões ou vícios) e a ataraxia (imperturbabilidade
da alma), e como quem é imperturbável não tem tristeza, que não é triste,
fazendo uma petição de princípio aqui, é feliz.
O objetivo principal da ética
estoica é Dominar as paixões (aqui entendidas como vícios). Para isso, o
esforço em controlar os pensamentos será fundamental, pois é o
pensamento equivocado que gera as condições para

o aflorar das paixões.
Como exemplo, vamos ler um
trecho de Epiteto (55-135), filósofo estoico que foi escravo em Roma
durante a maior parte de sua vida:
LEMBRA-TE QUE
NÃO É NEM AQUELE QUE TE DIZ INJÚRIAS, NEM AQUELE QUE TE BATE, QUEM TE ULTRAJA,
MAS SIM A OPINIÃO QUE TENS DELES, E QUE TE FAZ OLHÁ-LOS COMO GENTE POR QUEM ÉS
ULTRAJADO. QUANDO ALGUÉM TE MAGOA OU TE IRRITA, SAIBA QUE NÃO É AQUELE HOMEM QUE TE IRRITA, MAS SIM TUA OPINIÃO. ESFORÇA-TE, PORTANTO, ACIMA DE TUDO, PARA
NÃO TE DEIXAR LEVAR POR TUA IMAGINAÇÃO.

Enfim, os estoicos defendem também a necessidade de um amor fati,
expressão latina que significa “amor aos fatos, aos acontecimentos”, como o
próprio destino.

Já que tudo é animado pelos princípios racionais que governam o universo, de
tal maneira que tudo o que acontece e não depende de mim é necessário e bom,
mesmo a morte de um ente querido, por exemplo, deve ser tomada como um
acontecimento bom, no sentido de que faz parte da ordem universal.

Por isso, os estoicos entendiam que uma pessoa não deve se revoltar por ter
nascido com uma deficiência física ou por ser feia, pobre. Tudo isso não
depende dela. A pessoa deve não apenas aceitar o peso de seu destino, mas
também querê-lo, isto é, amar o que é, o que tem e o que vive. Ou seja, deve
compreender que faz parte da totalidade do cosmos e ter amor por seu destino,
dessa maneira, segundo os estoicos, essa pessoa será feliz.
Vejam bem, não é um convite ao marasmo,
à  preguiça, mas um convite à ação
calculada, ou seja, como eu sempre digo, a não jogarmos fora a água do banho
junto com o bebê, nem ficarmos dando tiro de canhão em mosquito.