segunda-feira, 29 de julho de 2019

FELICIDADE PARA ARISTÓTELES | PROFESSOR CRISTIANO







Falávamos na aula anterior sobre a felicidade em Platão. Eu
falava que na busca da felicidade, segundo Platão, ele parte de algumas
concepções importante como por exemplo, a concepção dualista da realidade na
qual haveria um mundo sensível, da matéria e um mundo inteligível das ideias.
Falava que na sua concepção também dualista de ser humano ele defende a ideia
de que o ser humano possui um corpo e uma alma que é preexistente ao corpo e
que contemplou no mundo das ideias a perfeição pela qual hoje anseia. Também
mostrei que essa alma é composta segundo ele de três partes sendo a mais
importante a parte racional responsável pela subordinação das demais partes
para que o ser humano atinja a felicidade.
Hoje eu vou falar um pouco sobre Aristóteles, discípulo de
Platão, que pra começo de conversa vai discordar de vários pontos de sua
doutrina, entre eles que haveria uma separação do mundo em mundo inteligível e
mundo sensível. Aristóteles, apesar de também valorizar a atividade
intelectual, teórica e contemplativa, vai tentar encontrar no próprio mundo a
essência das coisas, entre elas a felicidade. Uma boa obra para quem deseja
introduzir nesse assunto em Aristóteles é a chamada Ética a Nicômaco.
Esta obra começa com um apanhado bastante geral, uma
reflexão sobre o bom e o bem. Aristóteles diferencia o ser humano do animal,
porque o homem, ao contrário dos bichos, almeja e galga a felicidade suprema.
Independentemente de ser um homem comum ou um grande intelectual,
todos nós desejamos ser felizes, e, para tanto, exercemos nossas virtudes tendo
em vista o melhor.
Vamos entender melhor a partir de um trecho da obra:
[...] O QUE É PRÓPRIO DE CADA COISA É, POR NATUREZA, O QUE HÁ
DE MELHOR E DE APRAZÍVEL PARA ELA; E, ASSIM, PARA O HOMEM A VIDA CONFORME A RAZÃO
É A MELHOR E A MAIS APRAZÍVEL, JÁ QUE A RAZÃO, MAIS QUE QUALQUER OUTRA COISA,É
O HOMEM. DONDE SE CONCLUI QUE ESSA VIDA É TAMBÉM A MAIS FELIZ (ÉTICA A NICÔMACO,
P. 190)
Aristóteles afirmava que um ser só alcança seu fim quando
cumpre a função (ou faculdade) que lhe é própria e o distingue dos demais
seres, isto é, sua virtude (ou, em grego, aretê).
• A palavra virtude é entendida aqui como a propriedade mais
característica e essencial de um ser, aquela cujo exercício conduz à excelência
ou perfeição desse ser, trazendo-lhe prazer. Por exemplo: a virtude de uma faca
é o seu corte, de uma laranjeira é produzir laranjas, de um dentista é tratar
dos dentes. É importante a gente distinguir aqui a ideia de algo aprazível com
a ideia de algo virtuoso, por exemplo: a virtude de uma arma de fogo é disparar
bem um projétil, mas se eu a uso para matar uma pessoa, ela continua tendo sua
virtude garantida, a minha falta virtude não se confunde com a dela.
• o ser humano, por sua vez, dispõe de uma grande quantidade
de funções ou faculdades (caminhar, correr, comer, sentir, dormir, desejar,
obrar, amar etc.), mas outros animais podem possuí-las também. Há, porém, uma
única faculdade que ele possui com exclusividade e que o distingue dos demais
seres: o pensar de forma racional. essa seria, portanto, sua virtude essencial.
• Assim, o ser humano só alcançará seu fim e bem supremo (a
felicidade) se atuar conforme sua virtude, que é a razão. Mas preste atenção:
para Aristóteles, não basta ter uma virtude (a racionalidade) – é preciso
exercitá-la. O ser humano precisa esforçar-se para realizar aquilo que lhe é
dado pela natureza como potência (possibilidade de ser). Portanto, o que o
filósofo preconizava era que, para atingir a felicidade verdadeira, o ser
humano deveria dedicar-se fundamentalmente à vida teórica, no sentido de uma
contemplação intelectual, buscando observar a beleza e a ordem do cosmo, a
autêntica realidade das coisas. e deveria manter

essa prática durante a vida inteira, e não apenas em um ou outro dia.
Fica claro que Aristóteles percebe que o conceito de
felicidade varia de indivíduo para indivíduo, mas ele procura elaborar uma
teoria que contemple a todos.
De acordo com ele, existem três tipos de vidas possíveis:
- aquela dos prazeres, onde o ser humano se torna um refém
daquilo que deseja;
- aquela política, que busca a honra pelo convencimento;
- aquela contemplativa, a única que detém, de fato, a
essência da felicidade.
A vida contemplativa é guiada pelo pensamento e tem como
origem a nossa alma, o segredo para alcançá-la é buscar os elementos dentro de
si, e não almejar algo que esteja do lado de fora. Dessa forma, para
Aristóteles, o maior bem possível de se alcançar é o prazer intelectual,
intrinsecamente ligado à vida contemplativa.
[...] PORQUANTO UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO, NEM UM DIA
TAMPOUCO; E DA MESMA FORMA UM DIA, OU UM BREVE ESPAÇO DE TEMPO, NÃO FAZ UM
HOMEM FELIZ E

VENTUROSO. (ÉTICA A NICÔMACO, P. 16.)
A menção desse fenômeno das andorinhas por Aristóteles tem o
propósito de mostrar, de forma analógica ou metafórica, que “uma ação isolada
não faz o homem”, assim como uma andorinha isolada não é elemento suficiente
para mostrar que o verão se aproxima. Portanto, o filósofo está buscando
mostrar, com essa metáfora, que, para atingir a felicidade verdadeira, o
indivíduo deve dedicar-se durante toda sua existência à vida teórica,
contemplativa, não apenas um dia ou outro.
Mas sem tirar os pés do chão, no entanto, Aristóteles dizia também
que não se pode abandonar a companhia da família e dos amigos, a riqueza e o poder.
Todos esses elementos, e o prazer que deles resulta, promoveriam o
bem-estar material e a paz social, indispensáveis à vida
contemplativa
Aristóteles reconhecia que o sábio não pode dedicar-se à
contemplação se, por exemplo, não há alimentos, se seus filhos choram de fome e
a cidade está em pé de guerra. Portanto, ele também defendia não abandonar a
companhia da família e dos amigos, a riqueza e o poder. Todas essas atividades,
e o prazer que delas resulta, promoveriam o bem-estar material e a paz social,
indispensáveis à vida contemplativa.
Por outro lado, o gozo de tais prazeres estaria também
vinculado ao exercício de outras virtudes humanas – como a generosidade, a
coragem, a cortesia e a justiça – que, em seu conjunto, contribuem para a
felicidade completa do ser humano.
Resumindo: Aristóteles entendia que a finalidade última de todos
é a felicidade, e um ser só alcança seu fim quando cumpre sua virtude. O ser
humano dispõe de uma grande quantidade de funções ou faculdades, mas a única
que só ele tem e que o distingue dos demais seres é a de pensar, especialmente a
atividade racional. Assim, o ser humano só alcançará seu fim (a felicidade) se
atuar conforme sua virtude – a razão –, dedicando-se fundamentalmente à vida
teórica, no sentido de uma contemplação intelectual. Que também dependerá do
bem estar material e da paz social.

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