terça-feira, 17 de setembro de 2019

HENRI BERGSON: AS DUAS FONTES DA MORAL E DA RELIGIÃO | PROF. CRISTIANO







Na última
aula ao falarmos de evolução criadora, partimos da idéia de impulso vital que
proporcionou uma evolução das espécies  até chegarmos à análise das distinções entre
instinto e inteligência como duas formas de excelência. Sendo o instinto uma
forma rígida, repetitiva e a inteligência uma forma flexível que se expressa
numa atividade criadora. Finalizamos a aula trazendo  um conceito muito importante em Bergson que a idéia
de intuição. Mostramos por que a intuição acaba servindo ao ser humano como um
aporte complementar ao que lhe conferem o instinto e a inteligência. E
finalizamos apresentando as principais formas da atividade criadora que seriam
a arte, a filosofia, a moral e a religião.
 Eu dizia que, Bergson parte de uma teoria do
universo com a Evolução criadora e acaba desembocando numa teoria dos valores,
no caso, morais e religiosos.

Vimos também
em algumas aulas do conteúdo de ética que Platão havia concebido uma idéia de universalidade
dos valores morais como se eles fossem eternos e imutáveis , mas para vários
outros pensadores como Nietzsche, por exemplo, os valores teriam sido
construídos historicamente. Bergson, nós poderíamos dizer que se alinha se uma
certa maneira a esses últimos. Mas então, partindo desse pressuposto, qual seria
então a origem dos valores morais para Bergson? A resposta está na obra:  “as duas fontes da moral e da religião”   Para ele as normas morais teriam duas
fontes, a pressão social e o impulso de amor. Vamos entender isso:
No primeiro
caso, as normas são o fruto da pressão social e ex­pressam as exigências da
vida associada dos diversos grupos humanos, assim como eles se deram e se dão
na história. E é a história que nos ensina que o indivíduo segue o caminho que
encontra já trilhado pelos outros e codificado pelas normas de sua sociedade,
conforma-se às regras dessa sociedade, exalta seus ideais e procura se adequar
a eles. O que está na base da sociedade é apenas o hábito de con­trair hábitos.
E, em análise profunda, isso é o único fundamento da obrigação moral. Mas essa
moral da obrigação e do hábito é a moral da sociedade fechada, onde o indi­víduo
age como parte do todo e esse todo é um grupo determinado, como a nação, a
família ou o clube.

Mas, para
Bergson, a pressão social não é a única fonte da mora­lidade e não consegue,
como pretendiam os positivistas, explicar a vida moral do homem em sua
totalidade e em suas características mais típicas. Na realidade, não existe so­mente
a moral da obrigação e do hábito, isto é, a moral relativa às várias sociedades
fechadas da história, mas também existe a moral absoluta, que é a moral da
sociedade aberta. Essa é a moral, por exemplo, do cristianismo, dos sábios da Grécia
e dos profetas de Israel. Essa moral é obra criadora — criadora de valores
universais — de heróis morais como Sócrates ou Jesus, que vão além dos valores
do grupo ou da sociedade a que pertencem para ver o homem enquanto homem, a hu­manidade
inteira — e a humanidade inteira é a sociedade aberta. O fundamento da moral
aberta é a pessoa criadora; sua finalidade é a humanidade; seu conteúdo é o
amor para com todos os homens; sua característica é a inovação moral, capaz de
romper com os esquemas fixos das sociedades fechadas. A moralidade aberta é
algo que não se ensina: é a moral dos grandes místicos e reveladores, e de
todos os que seguem a inspiração que os induz a segui-los.

De modo
semelhante, como na moral, na vida religiosa, Bergson também distingue a
religião estática da religião dinâmica. Não é possível separar o pensamento
ético de Bergson de suas concepções antropológico-metafísicas-religiosas.

A religião
estática é caracterizada pelo que Bergson chama de função fabuladora. As
fábulas e os mitos, teriam o papel de reforçar os laços sociais entre os seres
humanos, pois o ser inteligente tende ao egoísmo, tem consciência de sua
própria moralidade e conhece a imprevisibilidade do futuro e a precariedade dos
empreendimentos humanos.Nesse sentido, a religião estática é uma religião infra-intelectual
e natural, pois surge da evolução natural com um objetivo vital de defender o
homem da ameaça de sua própria inteligência.

Já a
religião dinâmica, segundo Bergson é supra-intelectual, pois nela os dogmas são
apenas cristalizações, e o mergulho no impulso vital gera o misticismo. O que
seria o misticismo: “É A TOMADA DE CONTATO E, CONSEQÜENTEMENTE, A COINCIDÊNCIA
PARCIAL COM O ESFORÇO CRIADOR QUE A VIDA MANIFESTA. ESSE ESFORÇO É DE DEUS, SE
NÃO FOR O PRÓPRIO DEUS (...) DEUS É AMOR E OBJETO DE AMOR: NISTO RESIDE TODO O
MISTICISMO.”
Quando a
gente fala em misticismo a gente tende a pensar num tipo de contemplação que
rejeita a eficácia da ação. Mas Bergson, na verdade, acredita que o misticismo
adequado seria aquele no qual o êxtase é aquele que desemboca na ação no mundo.
Dessa maneira, o amor a Deus se traduz num amor pela humanidade. Esse tipo de
misticismo pode ser exemplificado nas figuras de São Paulo, São Francisco de
Assis, Santa Tereza , Santa Catarina de Sena, e Santa Joana Darc. Esta última, por
exemplo,uma grande heroína da Guerra dos Cem anos,ao liderar os exércitos da
França na expulsão dos ingleses, dizendo ter sido orientada pela voz de Deus.
Ou seja, de novo essa mescla entre espitiritualidade e ação no mundo. Sabemos
como sua vida terminou de maneira trágica, queimada por um falso tribunal de
inquisição por um bispo corrupto como se fosse uma herege ou bruxa, mas até
própria igreja reconheceu depois  seus mercimentos
tanto no aspecto político quanto no aspecto religioso.

E, além
disso, só a experiência mística está em condições de fornecer a única prova da
existência de Deus; a concordância dos místicos de qualquer religião que seja
religiões, mostra precisamente a existência real de Deus pela intuição mística.
Nesse
sentido, a religião dinâmica ou aberta é a reli­gião dos místicos. E, Bergson
ressalta que a humanidade tem urgente necessidade de gênios místicos nos dias
de hoje. Porque, através da técnica, ampliou sua ação sobre a natureza, seu
corpo se engrandeceu além da medi­da. Esse corpo engrandecido, segundo Bergson,
“ESPERA UM SUPLEMENTO DE ALMA, E A MECÂNICA EXIGIRÍA UMA MÍSTICA”. Esse
suplemento de alma é necessário para curar os males do mundo contemporâneo.

Não sei
vocês, mas eu sempre que vejo as pessoas indo atrás de soluções fáceis para o
alcance da felicidade, expressando um grande vazio interior, fico pensando se
talvez o que falta nos seres humanos não seria esse reconhecimento feito por
Bergson.  Mas isso é apenas uma opinião.

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