segunda-feira, 2 de setembro de 2019

HISTORICISMO | PROFESSOR CRISTIANO



No século XIX nós tivemos um grande desenvolvimento dos estudos
históricos, em especial na Alemanha, que acabou denominando este século de “século
da história”. Além disso, tivemos avanços em relação à filologia, e um resgate
de textos antigos epicuristas, estóicos, e pré-socráticos.

Na área do direito também tivemos um aprofundamento da idéia de
história que analisou as instituições jurídicas reconhecendo-as como resultado
de um processo evolutivo e não como dotadas de um saber já fixado eternamente.
Também é importante ressaltar a influência do romantismo, a idéia de
tradição, um certo culto da experiência coletiva dos povos, numa tentativa de
resgatar o passado no presente revivendo-o novamente.

Também a influência de Hegel que falecido no início do século XIX
deixou uma obra que ensinava a olhar a história não como um amontoado de fatos
separados, mas como uma totalidade em desenvolvimento dialético.

Nesse pano de fundo surge essa corrente damos o nome de historicismo
por razões óbvias. Ele surge nas últimas décadas do século XIX e se desenvolve
até o princípio da segunda guerra mundial.

Mas é importante frisar que o historicismo, e aqui não vamos
especificar o historicismo alemão, não é uma filosofia compacta. Mas a gente
pode encontrar elementos em comum em todas as visões ditas historicistas,
incluindo Dilthey de quem falei em aula anterior. Então vamos lá, quais são as
principais características do historicismo:

1.      
“O historicismo subs­titui a consideração
generalizante e abstrata das forças histórico-humanas pela conside­ração de seu
caráter individual.

2.       Apesar
da influência de Hegel e dos românticos como eu falei agora, para os
historicistas a história não é a realização de um princípio espiritual infi­nito
(Hegel) ou, como queriam os românti­cos, uma série de manifestações individuais
da ação do “espírito do mundo” que se encarna em cada “espírito dos povos”.
Para os historicistas alemães contemporâneos, a história é obra dos homens, ou
seja, de suas relações recíprocas, condicionadas pela sua pertença a um
processo temporal.


3.       os
historicistas rejeitam a filosofia da história do positivismo de Auguste Comte,
e a pretensão de reduzir as ciências históricas ao modelo das ciências
naturais, mas, assim como os positi­vistas eles valorizam a pesquisa concreta
dos fatos empíricos.

4.       os
historicistas também ressaltam a função crítica da filosofia assim como os
neocriticistas, ou seja, a filosofia deve ser voltada para a determinação das
condições de possibilidade, do funda­mento, do conhecimento e das atividades
humanas. Mas o historicismo amplia a crítica kantiana a todas as ciências,
inclusive as ciências histórico-sociais.


5.       O
historicismo também faz uma distinção entre história e natureza, distinção esta
que vai possibilitar analisar os objetos do conhecimento histórico como específicos,
no sentido de serem diferentes dos objetos do conhecimento natural.
A esse respeito nós falávamos de
Dilthey que separa as ciências da natureza que têm como objeto a observação
externa dos fenômenos e as ciências do espírito que têm com foco a observação
interna dos fenômenos, ou seja a experiência vivida.

6.       Isso
vai desembocar em uma outra característica do historicismo que é a busca pela
distinção das ciências histórico-sociais em relação às ciências naturais, e
investigar os motivos que fundamentam as ciências histórico-sociais como
conjuntos de conhecimentos válidos, isto é, objetivos.

7.       Também
ligado a isso, temos a idéia de que o conhecimento histórico reside na
individualidade dos produtos da cultura humana (mitos, leis, costumes, valores,
obras de arte, filosofias etc.), e essa individualidade é oposta ao caráter uniforme
e repetível dos objetos das ciências naturais.

8.       O
instrumento do conhecimento natural é a explicação causal (o Erklàren), o
instrumento do conhecimento histórico, segundo os historicistas, é a compreenção
(o Verstehen).

9.       Existe
uma idéia teleológica nas ações humanas, ou seja, ela tendem a fins, e os
acontecimentos humanos são sempre vistos e julgados na perspectiva de valores
precisos. Por isso, acabam surgindo teorias de valores mesmo na perspectiva
historicista.

Ou seja, as ciências naturais
parecem mais sólidas e objetivas, porque elas se baseiam numa observação
imediata dos fenômenos, mas nós sabemos que no caso do ser humano nós temos que
estar atentos à complexidade que o envolve. E é exatamente isso que levamos em
conta nessa décima e última característica que eu trago aqui:

10.   Para
os historicistas, o sujeito do conheci­mento não é o sujeito transcendental,
com suas funções a priori, como expôs Kant, mas sim homens concre­tos, históricos,
com capacidade de conhecer a realidade condicionada pelo horizonte e pelo
contex­to histórico em que vivem e atuam. Ou seja, para o historicista o
sujeito concreto é ponto de partida, é o ponto de apoio e é o ponto de chegada.
O interessante dessa abordagem é o reconhecimento não só da complexidade do ser
humano sobre a qual falei, mas também do dinamismo histórico e a sua
importância.

Houve abordagens que tentaram superar
essa visão historicista, como a do estruturalismo, por exemplo, mas talvez seja
viável a gente não jogar o bebê fora junto com a água do banho e buscar nessas
abordagens o que elas têm de útil para compreensão de nossa realidade atual e
até mesmo, da possibilidade de uma antropologia encarnada na história.


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