terça-feira, 10 de setembro de 2019

HENRI BERGSON: O TEMPO ESPACIALIZADO E O TEMPO COMO DURAÇÃO | PROF. CRIS...

Bergson é considerado como o mais importante filósofo francês de sua época, influenciando tanto o pragmatismo norte-americano no modelo de James, como também toda a filosofia através de suas reflexões sobre a ciência, a arte, a concepção de sociedade e da religião.
O objetivo de fundo da filosofia de Bergson é a defesa da criatividade e da irredutibilidade da consciência ou espírito, contra toda tentativa reducionista de matriz positivista.
Mas a defesa do espírito elaborada por Bergson adquire sua peculiaridade precisamente porque ele, a fim de entender plenamente a vida concreta da consciência, torna seus os resultados da ciência e não minimiza em absoluto a presença do corpo e a existência do universo material.
Para Bergson, as coisas são diferentes: a consciência ou vida espiritual é irredutível à matéria; ela é uma energia criadora e finita, continuamente às voltas com condições e obstáculos que podem bloqueá-la e degradá-la. O pensamento de Bergson é uma filosofia que pretende ser fiel à realidade, mas onde a realidade não é concebida como reduzida nem envolvida pelos “fatos” dos positivistas. Bergson se deu conta de que o positivismo não manteve em absoluto sua promessa de fidelidade aos fatos, como por exemplo, no tratamento do problema do tempo.
Segundo ele, o tempo da experiência concreta escapa à mecânica. Para a mecânica, o tempo é uma série de instantes, um ao lado do outro, como se vê nas sucessivas posições dos ponteiros do relógio. Por isso, o tempo da mecânica é tempo espacializado. Nesse sentido, medir o tempo significa comprovar que o movimento de certo objeto em um espaço determinado coincide com o movimento dos ponteiros dentro daquele espaço que é o quadrante do relógio. Mas, além de espacializado, o tempo da mecânica é tempo reversível, já
que podemos voltar atrás e repetir infinitas vezes o mesmo experimento. Além disso, para a mecânica, todo momento é externo ao outro e é igual ao outro: um instante vem depois de outro e não há um instante diferente do outro, mais intenso ou mais importante do que o outro.
Mas essas características do tempo da mecânica não conseguem dar conta do que é o tempo da experiência concreta. Se a espacialidade é a característica das coisas, a duração é a característica da consciência. A consciência capta imediatamente o tempo como duração. Duração quer dizer que o eu vive o presente com a memória do passado e a antecipação do futuro. Fora da consciência, o passado não existe mais e o futuro ainda não existe. Passado e futuro só podem viver em uma consciência que os liga no presente. Ou seja, a duração vivida não é o tempo espacializado da mecânica.
Naturalmente, o tempo espacializado e, portanto, quantitativo e mensurável, cristalizado em uma série de momentos externos uns aos outros, funciona bem para as finalidades práticas da ciência, que tem por função construir teorias úteis,  ricas de previsões, eficazes para controlar as situações que, de vez em quando, devem ser confrontadas. Nesse sentido, Bergson retoma a doutrina da economia da ciência proposta pelos empiriocriticistas, mas percebe, na ciência da natureza e em seus métodos, uma total incapacidade e inadequação para o exame dos dados da consciência.
Para Bergson, a realidade apresenta aspectos diversos, que, se quisermos permanecer fiéis à experiência, devem ser estudados com método próprio. É aí que, em sua opinião, o positivismo falha: na concepção de que a natureza dos fatos é única e ao pretender julgar todos os fatos com o mesmo método.
Bergson liga à idéia de duração, como característica fundamental da consciência, sua defesa da liberdade e sua crítica ao determinismo, quando este presume poder explicar a vida da consciência. Na realidade, se os objetos “não levam a marca do tempo transcorrido”, ou seja, se eles existem um externamente ao outro em um tempo espacializado, então a determinação de um acontecimento posterior por meio de um acontecimento anterior, diferente dele, torna-se possível: primeiros acontecimentos idênticos (as causas) explicam posteriores acontecimentos idênticos (os efeitos). Mas o que é possível — e útil — no âmbito dos objetos espacializados é impossível para a consciência.
A consciência conserva os traços do próprio passado: nela nunca há dois acontecimentos idênticos, por isso é impossível a determinação de acontecimentos idênticos sucessivos. A vida da consciência não é divisível em estados distintos, e o eu é unidade em devir — e onde não há nada de idêntico, não há nada de previsível.
Tanto os deterministas como os que sustentam da doutrina do livre-arbítrio, segundo Bergson, estão errados, porque aplicam à consciência as categorias típicas do que, ao contrário, é externo à consciência.
Os deterministas buscam as causas determinantes da ação, e não percebem que o único motivo profundo é a consciência toda, com sua história. Da mesma forma se comportam os que sustentam o livre-arbítrio, que estabelecem a causa da liberdade na vontade.
Substancialmente todos eles pressupõem uma idéia de consciência como uma soma de atos distintos, mas o eu é unidade em devir, nós “somos livres quando os nossos atos emanam de toda a nossa personalidade, quando a expressam”.

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