Eram três irmãs: Fé, Esperança e Caridade. Barnabé, homem
simples do interior da Bahia, ao ouvir um sermão do padre de sua paróquia sobre
as três virtudes teologais, decidiu colocar nas filhas que tivesse os nomes das
três virtudes. Quarenta anos depois, Dona Esperança contemplava as fotos das
irmãs. Quanta saudade! Acabara de voltar do velório de uma delas. Dona Fé,
apesar do jeito alegre e extrovertido, não contou com a longevidade de sua irmã
Esperança e morreu por um enfarte. Dona Esperança chorava ao lembrar-se de
Caridade, sua irmã mais nova, que nem ao menos ultrapassou a adolescência
devido a uma tuberculose. Como explicar a solidão que sentia? Mesmo, após os
pais terem ido para um bom lugar (apesar da alma não ocupar espaço), viviam as
três em contínua harmonia. Esperança, a mais velha, nunca se colocou como
autoritária, juntava-se às outras em tudo, até mesmo nas quadrilhas e
quermesses. E foi assim que, na solidão de sua casa, abandonada, até mesmo,
pelos animais de estimação já mortos de velhice, Dona Esperança resolveu não
mais viver. Mas a salvação parecia bater-lhe à porta. Rodolfo, um senhor, já
dono de uma prole de sete filhos, viúvo havia cinco anos, resolveu declarar-se,
estava apaixonado por ela; e lhe disse palavras tão doces ao ouvido que ela não
hesitou em dispensar a solidão como companheira tomando-o em seu lugar. Como
não poderia deixar de acontecer, casaram-se, mas não tiveram nenhum filho, seis
anos depois, resolveram fazer um passeio em família. Todos gostavam de Dona
Esperança, simples e humilde, tinha somente uma preocupação, não ofender e não
ser enfado aos outros. Na estrada, o filho mais velho de Rodolfo, tomava todas
as precauções necessárias para uma boa viagem. Numa curva, repentinamente foram
cortados por um caminhão em alta velocidade. Uma roldana férrea, que não estava
bem presa ao caminhão que a carregava, soltou-se e atingiu o carro. Todos, com
exceção de Esperança, morreram. Esperança, depois de dois meses de cuidados
intensivos, teve alta hospitalar. Chegando em casa, contemplava a foto do
marido. Quanta saudade! E, diante de várias alternativas para extinguir a
solidão, Dona Esperança morreu só. E, nenhum parente veio em seu enterro, Dona
Esperança não os tinha mais, todos morreram antes dela. Esperança morreu de
solidão.
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