quarta-feira, 30 de março de 2016

A esperança é a ultima que morre

 


            Eram três irmãs: Fé, Esperança e Caridade. Barnabé, homem simples do interior da Bahia, ao ouvir um sermão do padre de sua paróquia sobre as três virtudes teologais, decidiu colocar nas filhas que tivesse os nomes das três virtudes. Quarenta anos depois, Dona Esperança contemplava as fotos das irmãs. Quanta saudade! Acabara de voltar do velório de uma delas. Dona Fé, apesar do jeito alegre e extrovertido, não contou com a longevidade de sua irmã Esperança e morreu por um enfarte. Dona Esperança chorava ao lembrar-se de Caridade, sua irmã mais nova, que nem ao menos ultrapassou a adolescência devido a uma tuberculose. Como explicar a solidão que sentia? Mesmo, após os pais terem ido para um bom lugar (apesar da alma não ocupar espaço), viviam as três em contínua harmonia. Esperança, a mais velha, nunca se colocou como autoritária, juntava-se às outras em tudo, até mesmo nas quadrilhas e quermesses. E foi assim que, na solidão de sua casa, abandonada, até mesmo, pelos animais de estimação já mortos de velhice, Dona Esperança resolveu não mais viver. Mas a salvação parecia bater-lhe à porta. Rodolfo, um senhor, já dono de uma prole de sete filhos, viúvo havia cinco anos, resolveu declarar-se, estava apaixonado por ela; e lhe disse palavras tão doces ao ouvido que ela não hesitou em dispensar a solidão como companheira tomando-o em seu lugar. Como não poderia deixar de acontecer, casaram-se, mas não tiveram nenhum filho, seis anos depois, resolveram fazer um passeio em família. Todos gostavam de Dona Esperança, simples e humilde, tinha somente uma preocupação, não ofender e não ser enfado aos outros. Na estrada, o filho mais velho de Rodolfo, tomava todas as precauções necessárias para uma boa viagem. Numa curva, repentinamente foram cortados por um caminhão em alta velocidade. Uma roldana férrea, que não estava bem presa ao caminhão que a carregava, soltou-se e atingiu o carro. Todos, com exceção de Esperança, morreram. Esperança, depois de dois meses de cuidados intensivos, teve alta hospitalar. Chegando em casa, contemplava a foto do marido. Quanta saudade! E, diante de várias alternativas para extinguir a solidão, Dona Esperança morreu só. E, nenhum parente veio em seu enterro, Dona Esperança não os tinha mais, todos morreram antes dela. Esperança morreu de solidão.
 

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