Mário estava decidido. Iria suicidar-se. Nada no mundo
poderia tirar-lhe da angústia na qual mergulhou após a morte de Juscelino.
Amou-o desde o primeiro momento que o viu e por ele foi amado. Juntos
derrubaram todos os preconceitos. Ele, numa entrega total, nunca abandonou seu
companheiro, mesmo após saber de sua contaminação pelo HIV. Dedicou a Juscelino
toda a sua energia, mas não imaginava que o perderia para sempre. Foi assim,
que andando pela cidade, decidiu atirar-se do alto de um viaduto e, para ter
certeza de que não sobreviveria, esperaria um carro para atropelar o que
restasse de seu corpo. Respirou profundamente, estava pronto. De longe avistou
um carro que parecia estar em alta velocidade e se pôs de pé na mureta. Quando
o carro se aproximou, atirou-se. Calculou mal e acabou caindo em cima da
carroceria daquele carro. Nem mesmo nisso o destino lhe ajudou. Pensou em pular
daquela caminhonete que parecia correr a 130 quilômetros por hora, mas de nada
adiantaria; por outra influência do destino acabaria sobrevivendo a isso.
Então, batendo na capota, tentou atentar à motorista daquele carro que nem mesmo
se deu conta de que algo ou alguém estava em sua carroceria. Quando parou o
carro estava no meio de um matagal. E saindo, viu aquele homem em sua
carroceria e perguntou: “o que você está fazendo aí?”. E ele respondeu: “é uma
longa história” - e Mário começou a contar-lhe os últimos fatos de sua vida que
culminaram na resolução de dar cabo a ela. Tatiana chorou ao ouvir tudo aquilo
e disse: “eu também vim aqui para isso: amei uma mulher com louca paixão, amei
a sensualidade da ausência, amei-a e a ela me entreguei de corpo e alma, mas
nunca pensei que por ela seria traída; o punhal da perfídia que me feriu foi um
homem que se pôs em meu caminho, evidentemente, sabia que ele possuía algo mais
que eu não podia dar a ela além de meu amor...”. Mário passou a acreditar em
destino e tornou-se amigo daquela mulher. A amizade de ambos gerou um filho e
decidiram nunca mais lamentar o passado até que um dia Tatiana entrou em seu
quarto e não acreditou na cena que viu em sua cama. Como o destino poderia
pregar-lhe mais uma peça? Não já havia sofrido o suficiente na perda anterior?
Mário estava morto por causa de uma simples gripe que desencadeou em pneumonia.
Decidiu novamente por fim à própria vida e correu em direção ao viaduto próximo
ao seu apartamento; quando apareceu um carro que vinha em alta velocidade
atirou-se da mureta na qual se apoiara e caiu na carroceria do carro. E a
história se repetiu em novas versões.
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