segunda-feira, 28 de março de 2016

Coincidências



            Mário estava decidido. Iria suicidar-se. Nada no mundo poderia tirar-lhe da angústia na qual mergulhou após a morte de Juscelino. Amou-o desde o primeiro momento que o viu e por ele foi amado. Juntos derrubaram todos os preconceitos. Ele, numa entrega total, nunca abandonou seu companheiro, mesmo após saber de sua contaminação pelo HIV. Dedicou a Juscelino toda a sua energia, mas não imaginava que o perderia para sempre. Foi assim, que andando pela cidade, decidiu atirar-se do alto de um viaduto e, para ter certeza de que não sobreviveria, esperaria um carro para atropelar o que restasse de seu corpo. Respirou profundamente, estava pronto. De longe avistou um carro que parecia estar em alta velocidade e se pôs de pé na mureta. Quando o carro se aproximou, atirou-se. Calculou mal e acabou caindo em cima da carroceria daquele carro. Nem mesmo nisso o destino lhe ajudou. Pensou em pular daquela caminhonete que parecia correr a 130 quilômetros por hora, mas de nada adiantaria; por outra influência do destino acabaria sobrevivendo a isso. Então, batendo na capota, tentou atentar à motorista daquele carro que nem mesmo se deu conta de que algo ou alguém estava em sua carroceria. Quando parou o carro estava no meio de um matagal. E saindo, viu aquele homem em sua carroceria e perguntou: “o que você está fazendo aí?”. E ele respondeu: “é uma longa história” - e Mário começou a contar-lhe os últimos fatos de sua vida que culminaram na resolução de dar cabo a ela. Tatiana chorou ao ouvir tudo aquilo e disse: “eu também vim aqui para isso: amei uma mulher com louca paixão, amei a sensualidade da ausência, amei-a e a ela me entreguei de corpo e alma, mas nunca pensei que por ela seria traída; o punhal da perfídia que me feriu foi um homem que se pôs em meu caminho, evidentemente, sabia que ele possuía algo mais que eu não podia dar a ela além de meu amor...”. Mário passou a acreditar em destino e tornou-se amigo daquela mulher. A amizade de ambos gerou um filho e decidiram nunca mais lamentar o passado até que um dia Tatiana entrou em seu quarto e não acreditou na cena que viu em sua cama. Como o destino poderia pregar-lhe mais uma peça? Não já havia sofrido o suficiente na perda anterior? Mário estava morto por causa de uma simples gripe que desencadeou em pneumonia. Decidiu novamente por fim à própria vida e correu em direção ao viaduto próximo ao seu apartamento; quando apareceu um carro que vinha em alta velocidade atirou-se da mureta na qual se apoiara e caiu na carroceria do carro. E a história se repetiu em novas versões.

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