Era um garoto que sabia ler o pensamento. Aliás, ainda não
aprendera a ler, mas já sabia reconhecer o mais íntimo e imediato pensamento
das pessoas. Quando o percebeu tinha apenas cinco anos de idade, pensava ser
uma potencialidade comum a todas as pessoas até que percebeu ser uma
peculiaridade sua. Naquele mesmo tempo tentou dizer à sua mãe o que podia
fazer, contudo desanimou-se de agir assim quando leu em seu pensamento:
“crianças são crianças, imaginam o que querem e não sabem o que é a vida”.
Pensou consigo: “se digo a ela o queria dizer, não reconhecerá nisso a
realidade”. Quando entrou para escola, percebeu que nada havia a aprender,
pois, quem lhe ensinava, pensava: “o tempo não passa”. Quando alcançou um grau
mais elevado se deparou com a vil realidade de quem fingia saber o que
ensinava. Por isso, nunca alcançou grandes notas apesar de poder ler o
pensamento de quem elaborava as provas; as pessoas que o faziam pareciam
esquecer de tudo ou nem mesmo se quer esforçar-se por lembrar-se. Um dia,
durante uma prova, disparou a rir sem controle quando reconheceu no pensamento
de sua professora uma melodia com a seguinte letra: “Amor I love you!”.
- Por que você está rindo!
Está colando por acaso?
- Não professora, como
poderia? A senhora não tira o olho de mim!
Na verdade esta era a sua
limitação, só poderia ler o pensamento pelos olhos, porta da alma.
Paulatinamente descobrira o que havia escondido dentro de cada atitude das
pessoas. Mas não era feliz, sabia o que pensavam dele, preferiria nunca saber.
Era solitário e assim cresceu sabendo que o que se pensa nunca é externado como
se pensa e que era preciso fingir de bobo para viver. Reconhecia a hipocrisia
humana, mas, quando a relatava, imediatamente e terrivelmente, sofria a
conseqüência desse ato. Correu o mundo a fim de encontrar um homem que
realmente fizesse e falasse o que pensava com sinceridade, mas não encontrou. E
assim, chegando à margem do desespero, mergulhava no rio da morte pelo suicídio
por intoxicação medicamentosa. E os últimos pensamentos que pôde ler foram: “se
eu conseguir salvá-lo irei ser promovido!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário