terça-feira, 22 de março de 2016

O bajulador

            Ele era o famoso puxa-saco. Enchia de elogios a todos que encontrava tentando desta forma ser tido entre os amigos de quem era por ele elogiado. Era só encontrar o Zé da Viola e iniciava o seu bombardeio:
            - Há quanto tempo? Não tem tocado mais no bar Du Gomes? Sentimos imensa saudade de seus acordes que fazem nossa alma bailar. Por que sumiu?
            - Não tive novas propostas para tocar lá. O público diminuiu após minha ida para lá, acredito que nem todo mundo gosta de músicas como a de Zeca e Zaqueu, Antônio Juba e Maria das Covas...
            - Infelizmente, é por isso que o país não vai pra frente. A Cultura pregada pelos meios de comunicação não é o resultado dos gostos das pessoas, mas é ela que determina os gostos das pessoas.
            - Pode ser, mas isso não muda em nada a minha situação.
            - Mas vai mudar. Violeiro como tu não tem na região.
            Zé da Viola se despedia dizendo:
            - É, meu caro, se todos pensassem assim eu não estaria com tanta dívida.
            Mau Zé da Viola se ia, o puxa-saco encontrava outro:
            - Como vai Du Gomes! Há quanto tempo não vou tomar um aperitivo em seu bar? Como está o movimento?
            - Estou começando a recuperar os clientes. Vários deixaram de frequentar o bar quando inventei de chamar Zé da Viola para fazer show ao vivo.
            - Mas você é criativo, se isso não deu certo há outras coisas que você poderá fazer. Na verdade, nunca vi pela região alguém que tratasse a freguesia como tu.
            - Talvez eu consiga reverter a situação, mas de show ao vivo estou fora, isso já me deu prejuízo demais.
            - O erro não está em fazer show ao vivo, mas em quem você chama. Afinal de contas, quem pode aturar escutar por mais cinco minutos: Zeca e Zaqueu, Antônio Juba e Maria das Covas...

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