Ir a reunião e discutir sobre a globalização. Falar que é
contra a globalização. Sair da reunião sobre globalização. Entrar no próprio
escritório. Rasgar um panfleto que anuncia a nova promoção da Coca-cola.
Escrever uma dissertação contra a globalização. Apresentar a dissertação contra
a globalização ao editor do jornal. Esperar o gesto de aprovação e sentar-se
novamente ao escritório. Pensar nas crianças dos países da África
barrigudinhas, mas com fome. Pensar no carro importado que nunca elas terão e,
apertando a mão contra os punhos, dizer em voz alta: “é por isso que eu sou
contra a globalização”. Ler um artigo recém-publicado falando da seca no
nordeste. Ler outro artigo falando do aumento da taxa de juros da eterna dívida
externa e pensar: “é por isso que eu sou contra globalização”. Pedir um suco de
laranja nacional pelo telefone e escrever um artigo criticando o “Amor paterno
do FMI aos países subdesenvolvidos”. Revoltar-se contra a globalização. Ficar
com raiva, pois não há mais suco natural nacional e as laranjas boas foram
todas exportadas. Reafirmar que é por isso que é contra a globalização.
Amaldiçoar os tratados de livre comércio. Xingar a mãe do presidente dos EUA.
Falar que é contra a globalização. Desistir de lanchar, pois só há Coca-cola
para beber. Ir para casa com semblante de revolta. Atravessar a rua Gonçalves
Dias e morrer atropelado por um caminhão da Coca-cola onde está escrito:
“Gostoso é viver”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário