terça-feira, 29 de março de 2016

Perguntas X respostas








            Há dias que insistem em sua fadiga. Cansado de mais um dia de trabalho, saí do hospital onde trabalho, mas tinha comigo uma tarefa a mim destinada por um amigo: encontrar um quartel de polícia onde poderia procurar seu nome numa listagem para saber o local onde este faria as provas de um concurso público. Já na porta do hospital, iniciou o meu martírio num dia em que a impaciência se atestava visivelmente em mim:
            - Você poderia me informar que horas são?
            - Hoje saí de casa sem dar corda em meu relógio e até agora não parei para regulá-lo. Infelizmente não posso lhe informar as horas. Devem ser Sete horas mais ou menos.
            Frustrado saí. Escutar uma verborréia daquela da qual não poderia aproveitar nada! Ela poderia ter respondido apenas: “Meu relógio parou” e rapidamente eu deduziria o restante. Para aumentar a minha ansiedade, devia chegar ao quartel antes das 7:30 h e assim, desistindo de perguntar a outra pessoa sobre as horas, corri a atravessar a rua na qual certamente encontraria o quartel. Quando parei no jardim central, enquanto esperava o sinal de trânsito fechar para os carros, resolvi arriscar novamente algo para apaziguar minha ansiedade. Então, vendo um rapaz ao meu lado, também esperando para atravessar a rua, perguntei-lhe educadamente:
            - Você tem relógio aí.
            - Não! Você quer saber as horas?
            Pensei em “soltar-lhe os cachorros”. Para que eu gostaria de saber se ele tinha relógio? Evidentemente, estava querendo saber as horas. Se estivesse querendo assalta-lo, não perguntaria se ele tinha relógio. Mas respondi disfarçando meu nervosismo:
            - Sim.
            Então ele tirou um celular da bolsa e disse:
            - São 7:15 h, ou melhor, 7:16 h.
            Com certeza eu consegui dissimular com sagacidade de ator meu nervosismo. Uma resposta daquelas “talhou-me o sangue”. Ora, que diferença fazia entre um minuto para que ele refutasse a informação prestada? Caminhando mais adiante, acalmei-me reconhecendo nessa atitude um símbolo de ser prestativo. Mas, quando cheguei ao prédio onde pensara ser o Quartel de Polícia, tive outra decepção. Era somente mais um prédio hospitalar. Naquele momento, perguntei ao porteiro:
            - Você pode me informar onde se encontra o quartel?
            - De polícia?
            Respirei profundamente. O mundo estava unido para deixar-me enfurecido e respondi em tom áspero, porém, em voz baixa:
            - Sim. O Quartel de Polícia. Você sabe onde ele se encontra?
            - Várias pessoas vieram aqui hoje pensando ser aqui o Quartel de Polícia. Mas, eu não sei onde ele se encontra.
            Não sabia por que as pessoas perdem tantas palavras em vão. Talvez agora saiba, já que isto é o que faço neste momento. Apressado, segui a rua na tentativa de avistar o quartel. Poucas pessoas eu encontrei pelo caminho. E, se arriscava fazer a pergunta já estereotipada em minha boca naquele dia. Recebia quase sempre a mesma resposta:
            - Não sou daqui, mas, acho que ele pode se encontrar mais à frente.
            Apesar da educação ao agradecer amigavelmente a quem me dera alguns segundos de atenção, eu pensava: “não ser daqui não implica necessariamente em não saber onde se encontra o quartel”. Sabia eu que o “acho” daquelas pessoas demonstrava a mesma certeza que eu tinha: nenhuma.
            Foi assim que “aos trancos e barrancos” cheguei ao Quartel onde um policial me barrou na portaria dizendo:
            - Há um minuto atrás os portões estão fechados para o público externo.
            Lembrei-me, então, do rapaz do celular.

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