Há dias que insistem em sua fadiga. Cansado de mais um
dia de trabalho, saí do hospital onde trabalho, mas tinha comigo uma tarefa a
mim destinada por um amigo: encontrar um quartel de polícia onde poderia
procurar seu nome numa listagem para saber o local onde este faria as provas de
um concurso público. Já na porta do hospital, iniciou o meu martírio num dia em
que a impaciência se atestava visivelmente em mim:
- Você poderia me informar que horas são?
- Hoje saí de casa sem dar corda em meu relógio e até
agora não parei para regulá-lo. Infelizmente não posso lhe informar as horas.
Devem ser Sete horas mais ou menos.
Frustrado saí. Escutar uma verborréia daquela da qual não
poderia aproveitar nada! Ela poderia ter respondido apenas: “Meu relógio parou”
e rapidamente eu deduziria o restante. Para aumentar a minha ansiedade, devia
chegar ao quartel antes das 7:30 h e assim, desistindo de perguntar a outra
pessoa sobre as horas, corri a atravessar a rua na qual certamente encontraria
o quartel. Quando parei no jardim central, enquanto esperava o sinal de
trânsito fechar para os carros, resolvi arriscar novamente algo para apaziguar
minha ansiedade. Então, vendo um rapaz ao meu lado, também esperando para
atravessar a rua, perguntei-lhe educadamente:
- Você tem relógio aí.
- Não! Você quer saber as horas?
Pensei em “soltar-lhe os cachorros”. Para que eu gostaria
de saber se ele tinha relógio? Evidentemente, estava querendo saber as horas.
Se estivesse querendo assalta-lo, não perguntaria se ele tinha relógio. Mas
respondi disfarçando meu nervosismo:
- Sim.
Então ele tirou um celular da bolsa e disse:
- São 7:15 h, ou melhor, 7:16 h.
Com certeza eu consegui dissimular com sagacidade de ator
meu nervosismo. Uma resposta daquelas “talhou-me o sangue”. Ora, que diferença
fazia entre um minuto para que ele refutasse a informação prestada? Caminhando
mais adiante, acalmei-me reconhecendo nessa atitude um símbolo de ser
prestativo. Mas, quando cheguei ao prédio onde pensara ser o Quartel de
Polícia, tive outra decepção. Era somente mais um prédio hospitalar. Naquele
momento, perguntei ao porteiro:
- Você pode me informar onde se encontra o quartel?
- De polícia?
Respirei profundamente. O mundo estava unido para
deixar-me enfurecido e respondi em tom áspero, porém, em voz baixa:
- Sim. O Quartel de Polícia. Você sabe onde ele se encontra?
- Várias pessoas vieram aqui hoje pensando ser aqui o
Quartel de Polícia. Mas, eu não sei onde ele se encontra.
Não sabia por que as pessoas perdem tantas palavras em
vão. Talvez agora saiba, já que isto é o que faço neste momento. Apressado,
segui a rua na tentativa de avistar o quartel. Poucas pessoas eu encontrei pelo
caminho. E, se arriscava fazer a pergunta já estereotipada em minha boca
naquele dia. Recebia quase sempre a mesma resposta:
- Não sou daqui, mas, acho que ele pode se encontrar mais
à frente.
Apesar da educação ao agradecer amigavelmente a quem me
dera alguns segundos de atenção, eu pensava: “não ser daqui não implica
necessariamente em não saber onde se encontra o quartel”. Sabia eu que o “acho”
daquelas pessoas demonstrava a mesma certeza que eu tinha: nenhuma.
Foi assim que “aos trancos e barrancos” cheguei ao
Quartel onde um policial me barrou na portaria dizendo:
- Há um minuto atrás os portões estão fechados para o
público externo.
Lembrei-me, então, do rapaz do celular.
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