O ferro de brasas chorava
seu desuso. Não tinha sentido existir. Fora criado para ser ferro e não para
ser enfeite de estantes. Foi humilhado ao extremo e, com tristeza, observava
outro ferro mais jovem, que exibia uma cauda ligada a um buraco na parede. Não
compreendia bem o que era, mas sabia que aquilo o tornava superior. “Ah!” –
pensava ele – “esta geração mais jovem, sempre com inovações na aparência”.
Sentia-se solidário a uma senhora idosa que morava na casa junto com os filhos
e que sempre exclamava:
- Neste país, velho não
tem vez. Jovem é que dá lucro.
Ele também, durante anos,
serviu àquela senhora. Tivera o privilégio de passar o seu vestido de noiva, o
terno de seu marido, mesmo desmontado após vários tombos. Mas chegou outra
geração e sua utilidade se tornou antiquadra. De vez em quando, quando percebia
que algum daqueles que exibiam superioridade eram inutilizados por um simples
tombo, alimentava as esperanças de voltar a ser útil. Mas, logo, logo, aquele
era substituído por outro semelhante deixando-o em estado deplorável.
Um amigo, também dotado de cauda semelhante à de seu
rival, dizia-lhe sempre algo animador através de canções: “amanhã vai ser outro
dia”. E foi este amigo que lhe trouxe a notícia que mudou o rumo de sua
existência condenada para sempre à inutilidade: “Estamos em época de
racionamento de energia”. Não sabia o
que isso significava, mas de uma coisa tinha certeza, depois disso, nunca mais
ficou esquecido na estante; mas olhava complacente para o rival cuja cauda
arrastava no chão demonstrando impotência e pensava: “eu também já passei por
isso!”.
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