segunda-feira, 14 de março de 2016

De onde parte a arte que me faz sua parte?


Típica cena familiar carioca dos tempos de Dom Casmurro, em 1891  (Cena de Família de Adolpho Augusto Pinto; artista: Almeida Júnior)



Seus olhos penetraram em mim invadindo-me a alma; invasão ilícita, mas se toda invasão é ilícita como aceitá-la sem revanche?
Neste instante instável o espetáculo espera o ator ou o ator espera o instante?
Na noite de agonia um livro espera a vida ou a vida espera a agonia?
Diante do belo horizonte o quadro espera a tinta ou a tinta espera o horizonte?
Ao redor da beleza multidimensional a argila espera a forma ou a forma espera a beleza?
No cume da paixão a música espera a melodia ou a melodia espera a paixão?
Há algo que espera, há algo que é esperado,
Mas há muita gente que erra, esperando o que é passado.
Para tudo o que há na terra, a cultura tem seu traço,
O feio bonito se revela, pois, a beleza não está naquilo que se toca, se ouve, se vê, se sente, a beleza está na gente.

A cena em cena ensina
Que o que se encena
Também se ensina.
O fardo fadado ao já ofegante
É prova que comprova este instante
Em que o fardo do enfado a mim fadado
Desde o momento em que fui gerado
Gera a sensação da descrição do inefável:
Nele me perco, me encontro, tropeço,
Mas insisto em compartilhar com o mundo meus versos.
É chegado o momento no qual o inevitável torna-se precipitado
E o nunca feito torna-se sempre lembrado.

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