Voltávamos de uma festa no bairro Betânia e tomamos um
ônibus lotado. O motorista, destes que não esperam a gente entrar para fechar a
porta do ônibus, respondeu bruscamente ao “boa noite” que lhe dei. Era dia de
jogo do Atlético e o ônibus estava lotado de torcedores. A gritaria diante da
conquista de mais um campeonato enlevava aos torcedores que, batendo as mãos no
teto quase arrancavam-no. Depois de quinze minutos, pude respirar aliviado
diante do fim daquela balbúrdia.
Todos pudemos sentar após a saída daqueles torcedores. E
resolvi tirar um cochilo. De repente, acordei assustado quando escutei um
grito: “Boa noite!”. Era um menino que aparentava uns dezesseis anos apesar da
subnutrição visível pelas formas de seu corpo. De repente começou um discurso
muito conhecido por todos nós que viajamos nos lotações da cidade de Belo
Horizonte sendo interpelados por crianças a vender cartões e balas. Dizia com
voz tonante e firme:
- Há muitas crianças que vivem nas ruas de nossa cidade e
não tem nem mesmo o que comer. Muitas passam frio, fome e sede. Outras, diante
dessa situação de miséria, assaltam os transeuntes (e deu um enorme ênfase ao
falar esta última palavra), muitos se embrenham no mundo das drogas. Eu, porém,
não venho vender cartões nem balas, nem vou agradecer com um “Deus que pague” a
cada um de vocês que irá me entregar o dinheiro – e tirando uma 765 automática
disse: - isso é um assalto pessoal.
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