quinta-feira, 17 de março de 2016

Ambiguidades



-           Sabe a sua coluna?
-           O que tem ela doutor?
-           Nela você criticou o atendimento médico brasileiro!
-           Ah! Que alívio!
-           O que pensou que fosse?
-           Algo relacionado à minha coluna vertebral.
-           Não se preocupe, a sua saúde está a mil. Quem precisa cuidar mais de si é o seu irmão, do contrário poderá bater o seu carro novamente.
-           O meu carro?
-           Não! O carro dele!
-           Isso aconteceu porque Roberto e meu irmão se enganaram.
-           Mas por que Roberto enganou ao seu irmão?
-           Não, ele não enganou ao meu irmão.
-           Ah, então foi o seu irmão que enganou ao Roberto.
-           Não eles não enganaram um ao outro. Eles se enganaram por imaginar que a rua na qual entraram era de duas vias e, na verdade, era contra-mão.
-           Por isso chegaram tarde ao lançamento do livro de Roberto.
-           E por falar nisso, visitei o Roberto para falar de seu livro. Ele me impressionou muito.
-           Mas eu não gostei muito de seu livro, ou melhor, do livro dele.
-           Eu também não!
-           Então o livro a impressionou por este motivo?
-           Não! Quem me impressionou foi o Roberto.
-           Mas por qual motivo?
-           Outro dia, o guarda o prendeu em seu carro.
-           No meu carro?
-           Não!
-           Ah! No carro do policial?
-           Não! No carro do Roberto!
-           Mas porque o guarda o trancou em seu próprio carro?
-           Não! Ele não o trancou. Ele o prendeu sob acusação de assalto a uma livraria, o que parecia evidente ao policial que viu inúmeras cópias de seu livro no carro.
-           Mas o policial também era escritor?
-           Não! Eram os livros de Roberto, recém publicados.
-           Mas por que decidiram inspecionar o carro?
-           Foi a esposa do dono de uma livraria que, simultaneamente, mantinha um caso com Roberto.
-           Mas eu não sabia que Roberto era bissexual!
-           Não! Quem mantinha um caso com Roberto era a esposa do dono da livraria que, por ciúmes, aproveitou-se do incidente do roubo para vingar-se dele.
-           Ah! E por falar nisso, outro dia vi sua foto no metrô!
-           Mas eu nunca tirei foto no metrô!
-           Foto do Roberto.
-           Mas, pelo que sei, ele tem horror a metrô.
-           Não é isso! A foto dele estava acima do anúncio do lançamento de seu livro.
-           Do Roberto! É claro.
-           Voltando ao assunto da coluna...
-           Mas você não me disse que a minha coluna está ótima?
-           Não! Eu estou falando de sua coluna no jornal...

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